domingo, 9 de março de 2025

Rimando no metrô

 

Rimando no Metrô

 

Estação Eldorado                          estou apaixonado,

Estação Cidade Industrial            a moça é bonita e muito legal,

Estação Vila Oeste                        uma simpatia inconteste,

Estação Gameleira                       será minha, quer queira ou não queira,

Estação Calafate                            meu coração dispara. E como bate!

Estação Carlos Prates                   gosto dela “de grátis”,

Estação Lagoinha                         será que ela está sozinha?

Estação Central                              gostar tanto assim não é normal,

Estação Santa Efigênia                 vou me aproximar - data vênia,

Estação Santa Tereza                   não posso e não devo dar moleza,

Estação Horto                                eu sei que estou certo - não estou torto,

Estação Santa Inês                        acho que agora chegou a minha vez,

Estação José C. da Silveira          tem que ser minha de qualquer maneira,

Estação Minas Shopping             Vão me pedir exame anti-dopping”,

Estação São Gabriel                      ela deve ser bacana “pra dedéu”,

Estação 1º de Maio                        não posso ficar só no ensaio,

Estação Waldomiro Lobo              será que estou fazendo papel de bobo?

Estação Floramar                          essa é para namorar e para casar,

Estação Vilarinho                           tenho que descer e trabalhar.

Vou sozinho.


Agildo

 


Agildo

 

Agildo devia ter, aproximadamente, vinte anos de idade, quando se mudou de sua cidade natal - Serra do Salitre – MG, para Belo Horizonte - MG. Aqui ele estudou e formou-se em biblioteconomia numa faculdade pouco conhecida e começou a trabalhar numa empresa de arquivos digitais. Por gostar de rock, com os primeiros salários comprou uma guitarra e aprendeu a tocar algumas músicas dos Beatles. Conheci Agildo num bar onde, vez por outra, tomávamos uma cerveja.

Coincidência, ou não, os pais de Agildo se chamavam Gildo e Gilda. Sei que ele tinha dois irmãos: Atanagildo e Astrogildo e uma irmã Hermenegilda.

Agildo não era escritor ou poeta, mas gostava de dar palpites no que outras pessoas escreviam. Depois de eu mostrar a ele algumas alegorias que eu escrevi, Agildo quis fazer o mesmo. Revendo os meus alfarrábios, encontrei algumas delas que seguem abaixo, como “Sobre amar”.

Segundo Agildo, amar era para um:

Advogado – ter o direito de ser feliz,

Agricultor – semear bondades e colher carinhos,

Contador – debitar felicidades na vida de outrem,

Gramático – conjugar os verbos compreender e perdoar diariamente,

Jogador – o fair play da vida,

Louco – fugir de um hospício chamado solidão,

Matemático – extrair as raízes do orgulho,

Médico – curar o espírito,

Motorista – dirigir-se à Deus,

Religioso – desejar o bem ao próximo,

Vereador – legislar só alegrias,

Lutador - encorajar a alma a servir,

Filósofo - dar azo à inocência do coração,

Poeta - desconfiar de leitores bem-intencionados,

Eletricista – um choque de boas emoções,

Músico – uma melodia tocada no ritmo do coração.

Trovas, nunca foi o forte de Agildo. Guardei apena uma.

Foi olhando o seu perfil

no “face” que eu concluí:

com amigos - mais de mil,

como você é feliz, Ary!

Das frases de efeito que ele me enviou, só resgatei esta:

Será que andando sozinho é mais fácil da gente se encontrar?

Quanto aos textos, crônicas etc. Agildo não gostava de mostrar o que escrevia, apenas os títulos. Não sei porquê, guardei apenas estes cinco títulos. Ideologia de gênio, Viola inviolável, O paradoxo dos poetas, Hipocrisia censurada e Razoavelmente profundo.

Finalmente, algumas perguntas que ele gostava de fazer:

Quem inventou a palavra invenção?

Quem inventou a escola foi aluno ou professor na mesma?

Quem inventou a vacina, se vacinou?

Quem inventou a propaganda, fez propaganda do seu invento?

Quem inventou o atletismo, correu para comemorar?

Quem inventou o lápis, qual foi a primeira palavra que escreveu?

Quem inventou a palavra utilidade, achou que ela seria útil?

Quem inventou o trabalho estava desempregado?

Quem inventou a televisão assistiria, hoje, o BBB?

Quem inventou o futebol era bom de bola?

Não sei por onde anda Agildo, pois o bar que frequentávamos fechou as portas na época da pandemia e eu não tenho o seu endereço. Espero e desejo que esteja tudo bem com ele e que possamos nos reencontrar qualquer dia em qualquer lugar para trocarmos as nossas brincadeiras literárias.

 

 P.S.: Não conheci e não conheço nenhum Agildo. Não sei se vale a brincadeira.

 


A moral e a ética

 


A moral e a ética

 

Fiz da moral a minha verdade

e da ética minha própria razão.

Uma vela pela minha dignidade,

e a outra pela minha reputação.

 

A moral tem a ver com minha formação.

Já, a ética com a minha intimidade.

A primeira é sempre justa em sua ação,

e a segunda não comporta ambiguidade.

 

Todavia, o que eu jamais poderia supor,

é que entre elas houvesse tanta afinidade,

tanto respeito, tanta justiça e tanto amor.

 

Convivendo com bastante simplicidade,

e sabendo também cada qual seu valor,

as duas vem me dando muita felicidade.

 


Amores, sonhos e amizades

 


Amores, sonhos e amizades.

 

Fiz do meu coração um depósito

para guardar sonhos, amores e amizades

e, não sei se sem querer ou de propósito

ele acabou guardando também saudades.

 

Com capacidade de armazenagem limitada,

de alguns sonhos eu terei de me desfazer

e nas amizades, dar uma boa selecionada.

Já os amores, esses só se Deus interceder.

 

Alguns amigos costumam ter prazo de validade,

e sonhos perdem-se  numa memória desavisada.

Já os amores; esse vão todos para a eternidade.

 

Tantos amores, tantos sonhos e tanta amizade...

Mas do meu coração, eu não reclamo de nada.

Afinal, esta é sua função - esta é sua identidade.

 


Amar e pensar

 


Amar e pensar

 

Amar e pensar são ações independentes

que se realizam em dois órgãos distintos:

- o pensar com sede em nossas mentes

e o amar em nossos corações, por instintos.

 

Incompatíveis, às vezes, sem precedentes,

tentam acertar-se, mas seguem famintos

buscando a paz, por caminhos diferentes;

alguns deles, inclusive, há tempo já extintos.

 

E assim como nascem e crescem, morrem

se não receberem um trato bastante

que os deem forças para sobreviverem.

 

Agora, analisando as piores hipóteses,

vejo alguns corações rejeitando transplantes

e cérebros que sequer aceitam próteses.

 


Ocupação

 



Aqui, no meu coração você tem:

um estacionamento privativo,

um estabelecimento único,

um atendimento prioritário,

um quarto aconchegante,

uma repartição individual,

um alojamento protegido,

um camarote reservado,

uma região privilegiada,

uma estação preferida,

um posto de comando,

uma dependência fixa,

uma área preferencial,

um cômodo particular,

um setor diferenciado,

um espaço garantido,

um ambiente próprio,

uma seção especial,

uma vaga exclusiva,

um cantinho só seu,

uma cadeira cativa,

um aposento certo,

um local predileto,

uma reserva legal,

um lugar peculiar,

um porto seguro,

um trânsito livre,

um sítio restrito.


Indagação

 


Indagação

  

Quem pergunta por ele não sabe,

quanto amor que ali dentro cabe.

Quem pergunta por ele não detém,

aos sonhos que ali dentro contém.

Quem pergunta por ele não repara,

o quanto a vida ali dentro é “cara”.

Quem pergunta por ele não percebe,

a paixão que ali dentro se concebe.

Quem pergunta por ele não observa,

o “calor” que ali dentro se conserva.

Quem pergunta por ele não imagina,

a verdade que ali dentro se confina.

Quem pergunta por ele não entende,

de uma dor que ali dentro se estende.

Quem pergunta por ele não acredita,

que amizade que ali dentro é bendita.

Quem pergunta por ele não comenta

um desejo que ali dentro se fomenta

Quem pergunta por ele não se reitera,

da esperança que ali dentro prospera.

Quem pergunta por ele não se dá conta,

do quanto a saudade ali dentro apronta.

Quem pergunta por ele não está nem aí,

de coisas que ali de dentro podem advir.

Quem pergunta por ele não consegue supor,

que ali dentro exista tanto, mas tanto, amor.

 

Quem pergunta por ele não se comove,

Da esperança que ali dentro desenvolve

Quem pergunta por ele não compactua,

De um amor que ali dentro se perpetua.

PORQUE

Quem pergunta por ele, jamais para e reflete,

que ali dentro mora alguém especial - Arlete