quarta-feira, 14 de março de 2012

Marca Registrada



Marca Registrada


Outro dia estava lembrando-me de quando eu tinha doze anos e colecionava marcas de cigarros. Eu havia conseguido mais de cem, todavia, só recordei-me do nome de umas vinte. As demais, tal qual fumaça, desapareceram terminantemente da minha mente. Passei, então, a pensar em outras marcas que não as de cigarro. Marcas de um modo geral. Segundo o "Aurélio", marca são sinais que se fazem em objetos para reconhecê-los. Mas para mim, marca é isto e muito mais. São registros objetivos e subjetivos que existem em grande quantidade e variedade no tempo e no espaço. No espaço eu citaria as marcas internacionais, cujos valores costumam ser bastante expressivos como a Coca-cola, a Shell e a Pirelli para ficar em apenas três. E por terem valores expressivos, essas marcas costumam, muitas vezes, serem falsificadas. Outras se limitam a uma pequena região e, por serem pouco conhecidas, têm apenas valores simbólicos. As marcas podem se apresentar de várias formas: - gráficas, sonoras, luminosas, etc. Existem pequenas marcas que dizem muito, como um ponto de exclamação, uma vírgula ou um ponto final, e existem marcas compridas como os rastros deixados pelas rodas de um carro que pouco ou nada significam. Vemos marcas em animais para identificarem seus proprietários e marcas nas estradas para indicarem a direção e ou a velocidade permitida. Temos, ainda, sinalizações que mostram a presença de algo na pista que mereça atenção especial. No tempo, encontramos marcas duradouras como as marcas de uma guerra (existem marcas de paz?) e marcas efêmeras como são as fumaças deixadas pelos aviões a jato. Em geral, as marcas são feitas para sinalizarem alguma coisa, em determinado lugar e num dado momento. Ao fazermos uma marca numa página de num livro, num texto, estamos sinalizando onde paramos e onde deveremos retornar posteriormente para continuar a leitura. Muita gente tem no corpo marcas deixadas por um corte (uma cicatriz), por uma tatuagem, por uma queimadura ou simplesmente por uma vacina. Algumas marcas podem ser comprometedoras como uma marca de batom na gola da camisa de um homem ou a de um perfume deixada depois de um abraço demorado. Temos, também, marcas especiais como as marcas d' água impressas em alguns documentos oficiais. Muitas marcas podem ser dimensionadas, como a distância percorrida, a velocidade desenvolvida, a pressão atmosférica em certo ponto, a frequência de uma onda, o número de giros de uma roda, etc. É interessante notar que os equipamentos que fazem essas medições têm também suas marcas que identificam o fabricante e a sua qualidade. Temos a marcação de um ritmo ou da cadência de um compasso musical. No futebol, o jogador que tenta impedir, sistematicamente, que o adversário "deixe a sua marca", ou seja: - que marque um gol, costuma fazer sobre esse uma "marcação cerrada". Alimentos, bebidas, remédios, quase tudo tem uma marca. Produtos manufaturados ou "in natura" e bens de serviços também têm suas marcas identificadoras. Geralmente, uma etiqueta. Existem também as logomarcas. No filme "Marcado para morrer"... Bem, esta eu vou deixar marcada para falar depois. Prefiro citar o livro "Encontro marcado" do grande poeta mineiro Fernando Sabino. Em verdade, todos nós estamos sempre recebendo e deixando marcas em nossa passagem por este planeta. Marcas que, muita vez, ficam registradas no calendário, como o dia do nascimento, o dia do casamento e o dia da morte de um parente, etc. Eu poderia continuar dissertando sobre diferentes tipos de marcas, suas características, suas funções, etc., mas prefiro dizer agora de outros tipos de marca, qual sejam as marcas que você deixou e continua deixando no meu coração e na minha mente. São elas: as marcas de sua simpatia, do seu sorriso, dos seus abraços, a marca do seu olhar e do seu amor. São marcas indeléveis, que nem o tempo e nem a distância conseguirão apagar. São marcas para toda a vida, tal e qual a letra daquela música que diz: "marcas do que se foi...". Marcas que não podem ser expressas com palavras. Marcas de Deus em nós e por isso, marcantes. Essas sim, para mim, são marcas registradas.

sábado, 3 de março de 2012

Ih Rita!



Ih Rita!


Caro amigo Chico Buarque.
Como ouso chamar-lhe de amigo se nem o conheço?
Ora! - todo aquele que escreve e compõe coisas bonitas, úteis, interessantes e alegres eu considero como sendo meu amigo.
Hoje, ao ouvir pela enésima vez sua composição "A Rita", surgiu em minha mente uma série de indagações, motivo pelo qual resolvi escrever-lhe para solicitar sua ajuda no esclarecimento das mesmas.
Quando você diz: - "a Rita levou meu sorriso...", eu pergunto:
- levou para onde, Chico?
- por que ela levou seu sorriso?
- como ela fez para levá-lo?, estava de fácil acesso?
- teria ela algum interesse especial para levar esse seu sorriso?
- será que guardou-o ou já terá o repassado para outrem?
- Chico, teria ela conservado-o da mesma forma, do mesmo jeito e com a mesma beleza que tinha antes?
- e será que ela não se arrependeu e até mesmo pensou em devolvê-lo, só não o fazendo por vergonha ou algum outro motivo?
Chico, lembrei-me, agora, também, que naquela oportunidade ela lhe surrupiou outras tantas coisas.
Foi um desfalque e tanto, não foi mesmo?
Qual o destino ela deve ter dado àquele velho disco de Noel? Uma raridade e, portanto, valioso demais para ser extraviado assim.
Quanto à imagem de São Francisco, se você não conseguiu recuperá-la ainda ou adquirir outra para substituir a tungada, posso arrumar-lhe outra por aqui para você.
Com certeza, São Francisco, o protetor dos animais não deve ter gostado "nadinha" dessa atitude "besta" de Rita. Será que ela tinha ou tem alguma coisa contra os "franciscos"?
Onde ela estava com a cabeça para fazer uma coisa dessa!
Bem que ela poderia ter deixado pelo menos o seu retrato.
Se fosse hoje (hoje não se diz mais retrato; se diz apenas foto), talvez você tivesse uma cópia guardada em seu computador. Naquela época ninguém sabia e nem imaginava o que era uma câmera digital.
Chico, lá se vão mais de quarenta anos, quase meio século que esse fato se deu e eu não fiquei sabendo qual foi o desfecho do mesmo. Qual o resultado dessa maluquice, para não dizer dessa maldade.
Justamente ela que parecia ser uma pessoa tão honesta!
Por que será que algumas mulheres fazem isto com a gente, Chico?
Só de curiosidade; - por acaso você nunca pensou em abrir um processo contra a Rita? Afinal, o artigo 171 do Código Penal Brasileiro diz "obter para si ou para outrem, vantagens ilícitas, em prejuízo alheio..." Bom, agora acredito que seja tarde demais para reivindicar alguma coisa. Acho que não vale a pena pensar nisto mais. O melhor mesmo é esquecer.
Chico, fico imaginando o quão deve ter sido difícil para você viver ou conviver sem aquilo tudo, na época.
Oxalá, já tenha esquecido tudo e conseguido outros bens melhores e até mais valiosos para substituírem suas perdas e danos. Você merece.
Chico, só mais uma perguntinha:
- você ainda tem aquele violão mudo que ela deixou?
É que Jacqueline levou o meu e ele está me fazendo muita falta.
Se puder emprestar-me, desde já agradeço-lhe,
atenciosamente,

Seu amigo, Ary