sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Partidas à parte



Partidas à parte


Parte um comboio carregado de minério;
parte levando parte de Brumadinho;
parte sem royalties, sem impostos e critério;
parte, por vezes, como quem sai de fininho.

E segue esse comboio avante sobre trilhos,
por soturnos túneis e por velhos pontilhões;
segue levando o nosso minério sem brilhos,
para trazer progresso e riqueza aos milhões.

Parte do meu peito um comboio de mistério;
parte levando grande carga de carinho;
parte sabendo que seu amor é um caso sério;
parte deixando saudades pelo caminho.

E segue esse comboio sem empecilhos,
pelo éter infinito das ilusões;
segue levando sonhos e pecadilhos,
para retornarem na forma de emoções.

Tal qual o minério que sai de Brumadinho
para retornar, um dia, em barras de aço,
também deste meu peito sai carinho,
esperando, na volta, seu gostoso abraço.

Vá meu comboio. Vá ao seu destino certo!
Vá ao encontro de quem o ame com fé e arte;
de quem sempre o receba com sorriso aberto,
Isto é possível, sim. Não é um caso à parte.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Orgulho e Vaidade



Orgulho e Vaidade


Certa feita o Orgulho foi passear na casa da Vaidade e encontrou-se por lá com a Inveja, por quem desapaixonou-se perdidamente.
Foi um ódio à primeira vista.
A Inveja também desgostou do Orgulho, o que motivou, logo de início, uma verdadeira guerra passional.
O Orgulho sempre se destacou como egoísta e mau caráter. 
Já a Inveja pela desconfiança, pela descrença e pela petulância.
Com pouco tempo de convivência desastrosa, os dois já estavam trocando farpas, mensagens tolas e palavras de baixo calão, lembrando os velhos tempos de infâmia. Recordo-me agora de uma que dizia: “você pichou o meu coração com as tintas do seu tédio”.
Nos desencontros dos dois que aconteciam geralmente no Bar da Desgraça, nunca faltavam picuinhas, sorrisos irônicos e agressões verbais.
Naquele relacionamento era muito comum ver um se referir ao outro pela alcunha de Coisa ruim”.
O Orgulho tinha por companheiros o Vício e o Desatino e a Inveja, que gostava de frequentar a casa da dona Desavença, tinha como colegas inseparáveis a Desonra, Mentira e a Ingratidão.
E assim, depois de alguns anos de angústia e de maldade e sempre mal humorados, o Orgulho convidou a Inveja para ir morarem juntos num apartamento que ele havia alugado da dona Ilusão.
A turma do desestímulo, por sua vez, incentivava-os com todo desrespeito social, que era uma das suas características marcante.
Mas a Inveja impôs uma condição para tal. Só mudaria depois de casada, sem véu e sem grinalda, na Igreja da Desesperança. Decididos, então, marcaram uma data e foram procurar o padre Distúrbio para a celebração das núpcias. Compraram o enxoval no Magazine Solidão e convidaram para padrinhos o senhor Ócio e o senhor Remorso. Para madrinhas, dona Avareza e dona Antipatia, fato esse que deixou a Ostentação bastante perturbada.
Programaram terem dois filhos que chamariam Apego e Tristeza. 
E tudo caminhava de maneira sempre errada até que certo dia, na Rua da Hipocrisia, bairro da Inconstância, o Orgulho, de modo imprevidente e, querendo despertar ciúmes na Inveja, piscou para Estupidez que passava do outro da rua, deixando a Inveja louca de raiva, que muito furiosa dizia:
- fui humilhada injustamente e só não vou processá-lo, agora, por preguiça e por medo das retaliações.
Dona Luxúria que a tudo assistia, a fim provocar ainda mais intrigas, (de pôr mais lenha na fogueira da maldade) aconselhou a Inveja a agir rapidamente contra aquele ato impensado e imoral do imbecil.
Contudo, ela não acatou a ideia, pois sabia que se assim procedesse, perderia para sempre a inimizade da Dor e o do Azar; um terrível casal de amigos.

Mas, toda aquela desventura ou doença, como alguns preferiam dizer, provocou apenas uma pequena neurose no Orgulho e assim, apesar de toda prepotência e da enorme arrogância de ambos, numa noite fria de agosto os dois decidiram juntarem suas inconsequências, uniram-se despropositadamente e foram infelizes para sempre.