terça-feira, 1 de outubro de 2013

Diz que disse




Você diz que eu:

dissemino mentiras,

distancio da verdade,

distrato seus colegas,

discrimino os roqueiros,

distendo fofocas ao léu,

disciplino briga de galos,

dissipo olhares lacônicos,

distribuo sorrisos irônicos,

dissimulo intelectualidade,

discorro sobre inutilidades,

dispenso seus comentários,

discuto por qualquer motivo,

distraio com insignificâncias,

discrepo receitas tradicionais,

distorço a realidade dos fatos,

discordo de tudo que você diz,

dissuado suas melhores ideias,

disfiro a competência do chefe,

distingo pouco o legal do moral,

disturbo os melhores ambientes,

discurso em favor do proletariado,

disserto sobre coisas que não sei,

disponho de pouco tempo para você,

disperso a atenção quando você fala,

disputo até campeonato de palitinhos,

disfarço de rico para cativar as pessoas,

dissolvo no som de uma música clássica e que,

disparo contra tudo e contra todos, na hora da raiva.

No entanto, ou apesar de todo esse diz que disse,

não sei porque, mas você nunca diz que gosta de mim.


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

À disposição


À disposição

 

Coloco-me à sua disposição para:

brincar com você,

respeitar-lhe sempre,

proteger-lhe dos perigos,

comemorar suas vitórias,

compartilhar suas alegrias,

contar piadas para você rir,

calar quando você quiser falar,

dividir meu patrimônio com você,

ouvir suas queixas sem reclamar,

preparar os pratos que você gosta,

prestigiar seus projetos e iniciativas,

brindar um cálice de vinho com você,

cooperar com suas ideias e trabalhos,

vibrar de alegria com suas realizações,

orar pela sua paz e pela sua felicidade,

admirar a sua beleza e a sua inteligência,

passear com você na cidade e no campo,

dirigir bons pensamentos em sua direção,

conversar sobre assuntos de seu interesse,

perdoar e esquecer as intrigas e as ofensas,

falar palavras de amor e de carinho com você,

cantarolar as músicas que você gosta de ouvir,

estar sempre ao seu lado para o que der e vier,

escrever sonetos, poesias e acrósticos para você,

colaborar com o seu progresso material e espiritual,

desenvolver projetos de uma vida melhor para você,

construir uma amizade cada dia mais forte com você,

aceitar e respeitar seus momentos de querer ficar só,

aliviar, dentro das minhas possibilidades, suas tristezas,

emprestar meu ombro amigo quando você quiser chorar.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Verão



Verão


O verão voltou e um pernilongo resolveu me atacar:
- entrou sorrateiramente pelas frestas da minha janela,
pouco se importando com meu vasinho de citronela.
e sugou o meu sangue que deve ser doce para danar,


Também, um novo amor resolveu agora me molestar:
- entrou em meu peito, arrebentando tranca e tramela
e fez nele morada permanente para uma linda donzela,
sem que eu sequer pudesse d'alguma forma contestar.
.

No caso do pernilongo, eu sei qual solução irei tomar:
- vou vedar todas entradas, usando uma finíssima tela.
Já no caso do amor, não sei nem por onde começar,

pois um amor assim, eu sei, costuma deixar sequela;
e isto obriga-me a pensar como agir para não errar,
visto que, este amor tem, sim, um nome: - Gabriela.

Madoda


Acredito que o senhor não saiba o que venha ser madoda
e, certamente, irá ao dicionário informar-se do que se trata.
Não é uma palavra de uso corrente e nem está na moda
mas, ao verificar seu significado, terás uma surpresa grata.

Ela diz respeito a alguém que, quando entra numa roda
faz com que a conversa fique mais agradável e poética
pois, sua bondade é tamanha, que por vezes incomoda
aqueles que ainda não aprenderam conviver com ética.

Palavras definem pessoas e coisas; concretas e abstratas.
É delas que dispomos para expressarmos nossos desejos
e nossas emoções de maneira singular ou tecnocrata.

Deixo-lhe então, a incumbência de consultar no dicionário
o que venha ser madoda e, aproveitando ainda o ensejo,
quero dizer-lhe que você é “um”, na visão deste signatário.


Ela me enchia de pois ia



Ela me enchia de-poes-ia


Vamos deixar as coisas bem claras. Vamos colocar os pingos nos is:
- brasileiro não gosta mesmo de ler. Não tem interesse por literatura.
1998 comemorou-se o centenário de morte de Machado de Assis e a imprensa pouco ou quase nada noticiou.
Onde está nosso Ministério da Cultura que não divulga Manuel Bandeira, Olegário Mariano e Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Cruz e Souza e Fagundes Varella?
Será que o romantismo acabou de vez nesta era do pós-guerra fria ou foi o amor que roubou nossas alegrias e está preso numa cela?
Que eu saiba, lembranças não gastam corações de quem sonha e, tampouco saudade consegue levar alguém a cair em esparrela.
Por isso digo-lhe com toda sinceridade: - uma vida sem poesia é uma vida tristonha.
Se ontem a inspiração estava no luar, no sol ou no mar profundo, hoje ela se encontra no olhar cativante e no sorriso feliz de Gabriela, a quem dedico estes simples versos, com todo o carinho do mundo.


Autoridade




Autoridade

Quando pela força maior das necessidades,
os brasileiros se rebelarem de forma bruta;
quando pelo descaso geral das autoridades,
os pobres se unirem para uma grande luta;

quando enfim, despertados pelas atrocidades
praticadas pelo mau caráter de quem tributa,
provocar nossa gente, seu brio, sua dignidade,
abalando sua estrutura moral e sua conduta:

talvez aí, estejamos próximos de uma mudança,
com fortes clamores de justiça e de liberdade,
por essa gente que viveu apenas de esperança,

e que, vendo chegar a hora da grande verdade,
arregaçou as mangas para um ato de vingança
contra quem promoveu tamanha desigualdade.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Partidas à parte



Partidas à parte


Parte um comboio carregado de minério;
parte levando parte de Brumadinho;
parte sem royalties, sem impostos e critério;
parte, por vezes, como quem sai de fininho.

E segue esse comboio avante sobre trilhos,
por soturnos túneis e por velhos pontilhões;
segue levando o nosso minério sem brilhos,
para trazer progresso e riqueza aos milhões.

Parte do meu peito um comboio de mistério;
parte levando grande carga de carinho;
parte sabendo que seu amor é um caso sério;
parte deixando saudades pelo caminho.

E segue esse comboio sem empecilhos,
pelo éter infinito das ilusões;
segue levando sonhos e pecadilhos,
para retornarem na forma de emoções.

Tal qual o minério que sai de Brumadinho
para retornar, um dia, em barras de aço,
também deste meu peito sai carinho,
esperando, na volta, seu gostoso abraço.

Vá meu comboio. Vá ao seu destino certo!
Vá ao encontro de quem o ame com fé e arte;
de quem sempre o receba com sorriso aberto,
Isto é possível, sim. Não é um caso à parte.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Orgulho e Vaidade



Orgulho e Vaidade


Certa feita o Orgulho foi passear na casa da Vaidade e encontrou-se por lá com a Inveja, por quem desapaixonou-se perdidamente.
Foi um ódio à primeira vista.
A Inveja também desgostou do Orgulho, o que motivou, logo de início, uma verdadeira guerra passional.
O Orgulho sempre se destacou como egoísta e mau caráter. 
Já a Inveja pela desconfiança, pela descrença e pela petulância.
Com pouco tempo de convivência desastrosa, os dois já estavam trocando farpas, mensagens tolas e palavras de baixo calão, lembrando os velhos tempos de infâmia. Recordo-me agora de uma que dizia: “você pichou o meu coração com as tintas do seu tédio”.
Nos desencontros dos dois que aconteciam geralmente no Bar da Desgraça, nunca faltavam picuinhas, sorrisos irônicos e agressões verbais.
Naquele relacionamento era muito comum ver um se referir ao outro pela alcunha de Coisa ruim”.
O Orgulho tinha por companheiros o Vício e o Desatino e a Inveja, que gostava de frequentar a casa da dona Desavença, tinha como colegas inseparáveis a Desonra, Mentira e a Ingratidão.
E assim, depois de alguns anos de angústia e de maldade e sempre mal humorados, o Orgulho convidou a Inveja para ir morarem juntos num apartamento que ele havia alugado da dona Ilusão.
A turma do desestímulo, por sua vez, incentivava-os com todo desrespeito social, que era uma das suas características marcante.
Mas a Inveja impôs uma condição para tal. Só mudaria depois de casada, sem véu e sem grinalda, na Igreja da Desesperança. Decididos, então, marcaram uma data e foram procurar o padre Distúrbio para a celebração das núpcias. Compraram o enxoval no Magazine Solidão e convidaram para padrinhos o senhor Ócio e o senhor Remorso. Para madrinhas, dona Avareza e dona Antipatia, fato esse que deixou a Ostentação bastante perturbada.
Programaram terem dois filhos que chamariam Apego e Tristeza. 
E tudo caminhava de maneira sempre errada até que certo dia, na Rua da Hipocrisia, bairro da Inconstância, o Orgulho, de modo imprevidente e, querendo despertar ciúmes na Inveja, piscou para Estupidez que passava do outro da rua, deixando a Inveja louca de raiva, que muito furiosa dizia:
- fui humilhada injustamente e só não vou processá-lo, agora, por preguiça e por medo das retaliações.
Dona Luxúria que a tudo assistia, a fim provocar ainda mais intrigas, (de pôr mais lenha na fogueira da maldade) aconselhou a Inveja a agir rapidamente contra aquele ato impensado e imoral do imbecil.
Contudo, ela não acatou a ideia, pois sabia que se assim procedesse, perderia para sempre a inimizade da Dor e o do Azar; um terrível casal de amigos.

Mas, toda aquela desventura ou doença, como alguns preferiam dizer, provocou apenas uma pequena neurose no Orgulho e assim, apesar de toda prepotência e da enorme arrogância de ambos, numa noite fria de agosto os dois decidiram juntarem suas inconsequências, uniram-se despropositadamente e foram infelizes para sempre.



sexta-feira, 12 de julho de 2013

Alegorias sobre o amor de um matemático


  


Alegorias sobre o amor de um matemático



Para um matemático o amor pode ser:

O coeficiente da lógica;

A mediatriz dos sonhos;

A diferencial do prazer;

O limite ego;

A raiz da esperança;

A perpendicular à ilusão;

O ângulo dos desejos;

A paralela à paixão;

A potência do perdão;

O volume do altruísmo;

A épura da emoção;

A tangente à poesia;

O algoritmo da paz;

A base da caridade;

A superfície da consciência;

O MDC da liberdade;

A média da confiança;

A constante do coração;

O quociente do tempo;

A equação da moral;

A abcissa da justiça;

O zero do egoísmo;

A razão do bem querer;

A fração do destino;

O axioma da fé;

A progressão da amizade;

A derivada da simpatia;

O perímetro da lembrança;

A álgebra do ciúme;

A combinação de tempo e espaço;

O vértice do carinho;

A coordenada das expectativas;

A fórmula das afinidades;

O fatorial de bondade;

A função vida;

A integral de Deus;

O valor absoluto da alma.


terça-feira, 2 de julho de 2013

Tinha uma pedra no caminho



Tinha uma pedra no caminho


            Era uma vez um RYO chamado AraguARY que encontrou em sua corredeira uma pedra muito bonITA, de nome ITAipu e apelido “ITA”.
            E, assim como os rios bravios que correm pro mar, os olhos de RYO correram para os de ITA, fazendo seu coração transbordar de alegria.
            ITA também gostou do jeitão do RYO.
            Era o começo de um romance passional e fatídico.
RYO era filho do Senhor Tapajós com dona Araguaia e nasceu num grotão chamado “Vale da CassiterITA”, em dezembro de 1951. Não era, portanto, um RYO de Janeiro como muita gente pensava. Era do signo de SagitáRYO.  Toda vez que alguém lhe perguntava se ele era de “Peixes”, RYO retrucava e dizia em tom de brincadeira que não, que os “peixes” sim, é que eram dele.
            ITA, por sua vez, era baiana, de uma cidade onde se perdia tudo, inclusive as letras das palavras. Ela era de ITABUNdA, local onde, por mais de uma vez, foi eleita a rainha do time do ITAbaiana Futebol Clube.
            Filha do Senhor Basalto com dona Ardósia, ITA sempre se gabou de pertencer a uma família onde todos se apresentavam como “jóia rara”. Era a prima Turquesa, que adorava ouvir músicas do Paulinho Pedra Azul; era a sobrinha Esmeralda que jamais perdera as esperanças de reencontrar com Fernão Dias; era a tia Ametista, sempre cheia di-amantes e que ITA dizia ser mais que um parente – “uma transparente”. Tinha também o Rubi, considerado por ela “o primo de ouro” e o sobrinho Topázio que, no entender das outras, era uma rocha; melhor dizendo: uma pedreira.
ITA tinha muitas amigas do tempo em que estudara no Colégio BrITAdor de Minas Gerais, das quais sempre guardava boas recordações, sobretudo da InezITA, da CarmelITA e da BenedITA.
Seus elogios, porém, ficavam quase sempre para AngelITA e para a PepITA.
            De suas amigas atuais, as mais queridas eram a Pedra da Pia, a Pedra do Filtro e a Pedra Sabão. Todas, pedras bem polidas, no modo de ver e de entender de ITA.
            Havia, também, é claro, aquelas com quem ITA não simpatizava muito, como a EvITA e a Pedra Mó, que só viviam para amolar as outras, chegando esta última, inclusive, a ganhar o triste codinome de “Mó Cega”.
Mas de quem ITA se vangloriava mesmo, era de sua afilhada - a Pedra de Isqueiro. Filha do Senhor Selênio com dona FluorITAPedra de Isqueiro foi de grande importância na época do apagão. Quando a Pedra de Isqueiro deu à luz...
Bem; melhor deixarmos isto para outra oportunidade.
RYO, por sua vez, era imponente e gostava muito de discorrer sobre seus parentes. Começava sempre pelos mais distantes, como os primos Nilo, do Egito e o Sena, da França. Falava, também, orgulhoso dos Grandes do Sul e do Norte e, com tristeza do Tio-Etê de São Paulo e do Arruda de Belo Horizonte, de quem mantinha uma certa distância e uma imensa vergonha pelo estado de poluição em que se encontravam. Falava, ainda, da tia Apa, que morava na divisa do Brasil com o Paraguai e que por muitas vezes foi acusada de intermediar contrabando entre os dois paises.
            Para os amigos mais próximos, RYO gostava de mostrar um diploma de curso universitáRYO em Hidrologia com extensão não sei em quê. Gostava de dizer, também, orgulhosamente, ter sido a fonte inspiradora de um famoso livro: “Enterre meu coração na curva de um RYO
            ITA passava o dia inteiro às margens do RYO, mas à noite fazia questão de ir para o seu leito. Sabe-se lá fazer o quê. Para ela, aquele RYO era um Doce.
            Às vezes, depois de ouvir algumas músicas dos Rolling Stones, ITA ficava um tanto quanto agITAda e saía para dar umas voltas. Ao encontrar com as amigas dizia sem temor: “pedra que não rola (que não dá uns rolés) cria limo”.
            Já, RYO, em redemoinhos com seus amigos mais afluentes, não cansava de dizer: “enquanto muitos por aí têm pedra nos rins, eu tenho pedra no coração ”, ou ainda, “aqui, enquanto descanso, carrego pedra”; dito este que levava seu colega Ribeiro afirmar: - “este RYO é mesmo um louco de jogar pedra”.
            Verdade é que ITA passou a ser um coliRYO refrescante para RYO que, humildemente, nunca negou ser um portador de cataratas.
            E os dois sonhavam com um futuro pra lá de feliz, num pé de serra.
No dia dos namorados RYO deu a ITA um lindo anel de pedra cravada e ganhou da mesma uma enxurrada de carinhos.
            Nesta altura da vazão, ela já havia adquirido o Véu da Noiva e RYO prometido levá-la á Ara onde, pelo que se sabe, iria declarar o seu grande amor com a seguinte frase: “Tu és Pedra, e sobre esta pedra edificarei o meu açude”, frase esta que pouca gente entendeu, inclusive este que vos fala.
            Entretanto, muita água ainda estava por passar sob a ponte que unia a vida daqueles dois e, numa tarde de agosto, depois de uma grande enchente na região, semelhante àquela ocorrida, recentemente, em ITAjubá, ITA viu todo o seu sonho de amor ir por água abaixo.
            Ela começou a apresentar, ou melhor, não conseguiu disfarçar uma pequena barriga d’água.
            Para RYO, aquilo foi a gota d´água.
            Seu desejo de ter quatro filhos morrera afogado ali, para sempre.
Uma pena!
Os dois já haviam até escolhido os nomes que dariam às crianças: Ryta (fusão dos dois nomes), Gelo, Arroio e Granito. Este seria o mais rico de todos; cheio dos “cobres”, diziam, esperançosos.
Tudo acabado!
Os sonhos de fada de ITA ou fadáRYO como ela se referia ao seu futuro, agora já não era mais possível.
Os planos de viagens para ITAjaí e para ITAparica pela empresa do tio, a ITApemirim; tomar aquela água de coco em ITApoã...,  os programas na rádio ITAtiaia com as GipsITAs e a Galena toda, lembrando os velhos tempos da TV ITAcolomi..., o curso de ITAliano..., o sítio em ITApecerica, ou aquele outro da tia em ITApema...
Tudo isso agora era coisa do passado.
O lugar mais longe que ela poderia ir doravante, talvez fosse ITAúna, ITAbira ou ITAbirito, aqui mesmo em Minas Gerais.
            Como bem exclamou, ironicamente, sua vizinha, dona BauxITA: - “acho que desta vez ITA deu com os burros n´água!”.
            Alguém deve ter cantado a pedra noventa antes da hora e só pode ter sido a maldITA da dona DolomITA, com a aquela Garganta do Diabo, reclamava ITA com os olhos rasos d´água.
            Agora, pouco ou nada adiantaria ela usar a sua famosa e tradicional água de cheiro ou a outra perfumada água de colônia do BoticáRYO.
Para RYO, ITA já não era mais a sua pedra filosofal, ou melhor: - sua pedra fundamental.
Para ele, ITA já não trazia mais aquele brilho no olhar; já não era mais aquela pedra preciosa que ele conhecera, um dia, em suas profundezas, exibindo as mais finas texturas e os mais lindos seixos...; já não era mais á-gata de seus sonhos.
            Justamente ele que ficava horas e horas imaginando as crianças sentadas no córrego de ITA tentando tirar leite em pedra e que se dizia disposto até mesmo a tomar com ela uma sopa de pedra numa marmITA
RYO não via mais ou não queria ver motivos para aquela barriga d´água de ITA.
Para ele, a atitude e ITA foi uma clara demonstração de quem havia voltado a Era da pedra lascada; uma pedra que, segundo ele insinuou por mais de uma vez, já andava merecendo levar uns coques.
Ônix já se viu uma coisa dessas! Dizia-o bem desconsolado.
O futuro nascimento do seu filho Gelo (pedra d´água) caíra como uma chuva de pedras sobre sua cabeceira.
            Ali, caíram também, por terra, todos os seus planos, inclusive o do batizado do primogênito ou se fosse ela, da primogênITA que deveria de ser no Jordão, como foi o de Jesus.
            Os padrinhos, já escolhidos, previamente; senhor Iguaçu e senhora Pedra Pome, prevendo as inúmeras dificuldades que ITA iria enfrentar, logo se prontificaram a ajudá-la, comprando uma enorme bacia para que ela pudesse dar banho em Gelo, muito embora estivessem convencidos de que dar banho em Gelo não seria o mais difícil. O problema maior seria mesmo na hora de enxugá-lo.
            Agora, verdade seja dita: ITA nunca foi lá muito santa, não.
Para algumas inimigas, o que ITA era mesmo, era uma pedra de atiradeira.
Numa festa na casa da Safira, na Rua DiorITA, ela teria dito já ter “ficado” com o Pará, com Paraná, com o Paraopeba e com o Paranapanema. Pode parar!
            Só que desta vez, como bem descreveu o seu Calcário: “agora a fonte secou” e daquele romance tão bonito, com certeza não ia ficar pedra sobre pedra.
            Sabe-se que ITA, tem andado muito abatida e que, por várias vezes, tentou reconciliar-se com RYO. Rezava todos os dias para São Francisco, seu santo de devoção e fazia o sinal da cruz com água benta.
Em suas preces, sempre faz questão de lembrar o trecho do evangelho que diz: “Atire a primeira pedra aquele(a) que nunca pecou”.
Dizem que ela chegou inclusive a pedir pedrão ao RYO, mas este nunca quis perdoá-la.
            Dizem que lá no grotão, já bastante inconformada com essa situação, ITA teria atirado uma flor na correnteza do RYO, mas esta ficara presa num galho de esperança.
            Como diz o velho ditado: “Águas passadas não movem moinhos”.
            Comentam, ainda, lá pelas redondezas do Capão dos Arenitos que ITA não sabendo mais o que fazer para cascalhar, ou melhor, para pavimentar sua estrada da vida, entrou num quartzo e começou a cantar baixinho “Foi o RYO que passou em minha vida”; um RYO que, diga-se de passagem, agora já não dá mais pé.
            RYO, por sua vez, está tomando chá de quebra-pedra duas vezes ao dia e tem desaguado as suas mágoas no rio das VelhasItá-mar?
            Sábado, no Bar-RYO de chope, localizado na Rua Mármore, depois de tomar daquela água que passarinho não bebe (não era ITAipava, não) ele começou a declamar: “água dura em pedra mole, tanto bate até..”. Que gole hein!
            Ele que nunca foi de dar o braço a torcer, parece que já não consegue mais represar tanta tristeza e, pelo que se ouve falar, já não tem mais, também, aquele sono de pedra que tinha antes de conhecer ITA.
            Para o amigo Tocantins, RYO disse não saber o porquê de tudo isto. “Acho que joguei muita pedra na cruz. ITA é hoje uma pedra no meu sapato”, sapato este, finíssimo, comprado, há pouco tempo, nas Lojas ITApuã.
E por falar em pedra, notícias vindas de ITAguara dão conta que RYO foi visto na semana passada naquela região levando no bolso duas pedras de crak, o que não é nada bom.
Seus colegas mais próximos já pensam em levá-lo aos EUA para tratamento com o Dr. Missouri em Mississipi City. É esperar para ver.
Enquanto isso, alguns “amigos” do casal estão preocupados apenas em saber com quem ficarão o apartamento no bairro Riacho das Areias, os discos da dupla Rio Negro e Solimões e o saldo da caderneta de poupança do Banco ITAú, etc.
            Agora, veja quão interessante eram os adjetivos pejorativos que eles passaram a usar para se referirem, mutuamente.
Ele a chama de Pedregulho (mistura de pedra com bagulho), de Pedrante e de Pedra de xadrez. E olhe que no tabuleiro de xadrez tem a rainha!
            Ela, para não ficar para trás, dizendo que RYO é salafráRYO, RYOdículo e caudaloso (da cauda grande), etc.
            É..., mas ainda assim, vale à pena lembrar os bons momentos de humor deles, nos velhos tempos.
- quando ela se mostrava mais radical, ele exclamava: “XiITA !!!”;
- quando ele ia ao bar dizia: “vou tomar uma Beer-ITA”;
- quando ele faltava com a lucidez, era a vez dela dizer: “desvaRYO...”; e
- quando o problema era escassez de dinheiro, ele a interrogava dizendo: “Cadê o espólio do Barão de ITAraré?” numa referência clara ao bisavô de ITA que, segundo dizem, teria deixado muita prata antes de morrer.
Mas o melhor de tudo mesmo era vê-la chamando-o de margens flácidas que, trocando em miúdos, queria dizer “bunda mole”.
Bom, acho que está na hora de eu parar. Está na hora de colocar uma pedra por cima disto tudo, senão alguém ainda vai querer me mandar lá pras bandas  AzurITA.


Moral da história sem moral: Nunca diga dessa água jamais beberei.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Agnes sei



Agnes sei


Agnes sei

que tenho o coração meio desatento,
que esquece que tem um sentimento,
que gosta de gostar sem impedimento,
que tem se mostrado frágil e ciumento,
que se emociona diante do firmamento,
que se encanta até com o seu batimento,
que brinca com a falta de conhecimento,
que suporta alguns tipos de atrevimento,
que deseja ao outro o bem cem porcento,
que vibra de alegria e de contentamento,
que já foi, por muitas, deixado ao relento,
que atura o regime, mas não o regimento,
que sofre, mas que dignifica o sofrimento,
que sonha, padece e tem pressentimento,
que vê em teu sorriso o melhor alimento,
que se alegra com um bom procedimento,
que não sabe explicar este acontecimento,
que acredita ser o amor seu maior invento,
que lo guarda como um santo sacramento,
que, por vezes, se sente leve como o vento,
que sempre espera um novo envolvimento,
que recusa o colesterol e o envelhecimento,
que não se compraz com o arrependimento,
que bate com fé em sinal de agradecimento,
que se perde em desejos, a todo o momento,
que só irá parar quando do meu falecimento,
que curte as lembranças sem aborrecimento,
que fez do meu peito o seu único alojamento,
que vive mui satisfeito neste compartimento,
que faz de tudo para não ter constrangimento,
que detesta o orgulho, a inveja e o fingimento,
que deu à saudade um  lugar em seu aposento,
que adora muitos carinhos no relacionamento,
que trabalha sem receber qualquer pagamento,
que se preocupa com um possível enfartamento,
que vangloria de um passado com discernimento,
que simpatiza com outro de igual comportamento,
que está em constante conflito com o pensamento,
que no estetoscópio se mostra bastante barulhento,
que não acha solução para tanto comprometimento,
que ama você com muito, mas muito convencimento,
que espera de você, simplesmente o reconhecimento,
e nestes termos, pede deferimento.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Quadras quadradas



Quadras quadradas


Dizem que amor machuca muito a gente
e que, as vezes, acaba deixando sequela;
O amor de Augusto foi tão contundente,
que hoje ele traz uma cicatriz - Gabriela.

Quem vê aquele homem com papel e caneta,
a escrever naquela mesa, com tanta emoção,
não sabe que hoje, começou dá-lo na veneta,
amar e a conversar com seu próprio coração. 

Às vezes a gente faz, desfaz, acontece e apronta;
depois se arrepende, se desculpa e pede perdão.
Agora dizerem que não gosto dela é uma afronta
Afinal, quem pode decifrar as coisas do coração?

E se o amor resolver me abandonar,
juro que não sei o que será de mim.
se por ele vou sofrendo sem parar;
sem ele, podes crer, será o meu fim.

Um amor que julgava estivesse morto, com certeza,
obrigou-me a exumar o coração para poder conferir.
Mas ao abrirem meu peito, foi uma grande surpresa;
Lá estava você, toda alegre, a brincar para eu sorrir.

Meu peito aluga seu coração para um monte de gente.
Agora, veja você, do que um simples aluguel é capaz:
ontem o amor de trás veio visitar seu vizinho da frente;
hoje, é o amor de frente que visitará o vizinho de trás.

Diante desse olhar, cheio de lirismo,
a uma indagação que sempre chego:
- como que pode nosso Espiritismo,
querer que eu viva sem o desapego?