Orgulho e Vaidade
Certa feita o Orgulho foi passear na casa da Vaidade e encontrou-se por lá com a Inveja, por quem
desapaixonou-se perdidamente.
Foi um ódio à primeira vista.
A Inveja também desgostou do Orgulho, o que motivou, logo de
início, uma verdadeira guerra passional.
O Orgulho sempre se destacou como egoísta e mau caráter.
Já a Inveja pela desconfiança, pela descrença e pela petulância.
Com pouco tempo de convivência desastrosa,
os dois já estavam trocando farpas, mensagens tolas e palavras de baixo
calão, lembrando os velhos tempos de infâmia.
Recordo-me agora de uma que dizia: “você pichou o meu coração com as tintas do
seu tédio”.
Nos desencontros dos dois que aconteciam geralmente no Bar da Desgraça, nunca faltavam
picuinhas, sorrisos irônicos e agressões verbais.
Naquele relacionamento era muito comum ver um se referir ao
outro pela alcunha de “Coisa
ruim”.
O Orgulho tinha
por companheiros o Vício e o Desatino e
a Inveja, que gostava de
frequentar a casa da dona Desavença, tinha como colegas inseparáveis a Desonra, Mentira e a Ingratidão.
E assim, depois de alguns anos de angústia e de maldade
e sempre mal
humorados, o Orgulho convidou a Inveja para ir morarem juntos num apartamento
que ele havia alugado da dona Ilusão.
A turma do desestímulo, por sua
vez, incentivava-os com todo desrespeito
social, que era uma das
suas características marcante.
Mas a Inveja impôs
uma condição para tal. Só mudaria depois de casada, sem véu e sem grinalda, na Igreja da Desesperança. Decididos, então,
marcaram uma data e foram procurar o padre Distúrbio para
a celebração das núpcias. Compraram o enxoval no Magazine Solidão e convidaram para padrinhos o
senhor Ócio e o senhor Remorso. Para madrinhas, dona Avareza e dona Antipatia, fato esse que
deixou a Ostentação bastante perturbada.
Programaram terem dois filhos que
chamariam Apego e Tristeza.
E tudo caminhava de maneira sempre errada
até que certo dia, na Rua da Hipocrisia,
bairro da Inconstância, o Orgulho, de modo imprevidente e, querendo despertar ciúmes na Inveja,
piscou para Estupidez que
passava do outro da rua, deixando a Inveja louca
de raiva, que muito furiosa
dizia:
- fui humilhada injustamente e só não vou
processá-lo, agora, por preguiça e por medo das retaliações.
Dona Luxúria que a tudo assistia, a fim provocar
ainda mais intrigas, (de
pôr mais lenha na fogueira da maldade) aconselhou a Inveja a agir rapidamente contra aquele ato impensado
e imoral do imbecil.
Contudo, ela não acatou a ideia, pois
sabia que se assim procedesse, perderia para sempre a inimizade da Dor e o do Azar; um terrível casal de amigos.
Mas, toda aquela desventura ou doença, como alguns preferiam dizer, provocou
apenas uma pequena neurose no Orgulho e assim, apesar de toda prepotência e da enorme arrogância de ambos, numa noite fria de
agosto os dois decidiram juntarem suas inconsequências, uniram-se
despropositadamente e foram infelizes para sempre.
Padrinho, o texto é fantastico!!usa da ironia para refletir a realidade!!
ResponderExcluirParabéns pela escolha!
Abraços
Deborah Rodarte