quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Orgulho e Vaidade



Orgulho e Vaidade


Certa feita o Orgulho foi passear na casa da Vaidade e encontrou-se por lá com a Inveja, por quem desapaixonou-se perdidamente.
Foi um ódio à primeira vista.
A Inveja também desgostou do Orgulho, o que motivou, logo de início, uma verdadeira guerra passional.
O Orgulho sempre se destacou como egoísta e mau caráter. 
Já a Inveja pela desconfiança, pela descrença e pela petulância.
Com pouco tempo de convivência desastrosa, os dois já estavam trocando farpas, mensagens tolas e palavras de baixo calão, lembrando os velhos tempos de infâmia. Recordo-me agora de uma que dizia: “você pichou o meu coração com as tintas do seu tédio”.
Nos desencontros dos dois que aconteciam geralmente no Bar da Desgraça, nunca faltavam picuinhas, sorrisos irônicos e agressões verbais.
Naquele relacionamento era muito comum ver um se referir ao outro pela alcunha de Coisa ruim”.
O Orgulho tinha por companheiros o Vício e o Desatino e a Inveja, que gostava de frequentar a casa da dona Desavença, tinha como colegas inseparáveis a Desonra, Mentira e a Ingratidão.
E assim, depois de alguns anos de angústia e de maldade e sempre mal humorados, o Orgulho convidou a Inveja para ir morarem juntos num apartamento que ele havia alugado da dona Ilusão.
A turma do desestímulo, por sua vez, incentivava-os com todo desrespeito social, que era uma das suas características marcante.
Mas a Inveja impôs uma condição para tal. Só mudaria depois de casada, sem véu e sem grinalda, na Igreja da Desesperança. Decididos, então, marcaram uma data e foram procurar o padre Distúrbio para a celebração das núpcias. Compraram o enxoval no Magazine Solidão e convidaram para padrinhos o senhor Ócio e o senhor Remorso. Para madrinhas, dona Avareza e dona Antipatia, fato esse que deixou a Ostentação bastante perturbada.
Programaram terem dois filhos que chamariam Apego e Tristeza. 
E tudo caminhava de maneira sempre errada até que certo dia, na Rua da Hipocrisia, bairro da Inconstância, o Orgulho, de modo imprevidente e, querendo despertar ciúmes na Inveja, piscou para Estupidez que passava do outro da rua, deixando a Inveja louca de raiva, que muito furiosa dizia:
- fui humilhada injustamente e só não vou processá-lo, agora, por preguiça e por medo das retaliações.
Dona Luxúria que a tudo assistia, a fim provocar ainda mais intrigas, (de pôr mais lenha na fogueira da maldade) aconselhou a Inveja a agir rapidamente contra aquele ato impensado e imoral do imbecil.
Contudo, ela não acatou a ideia, pois sabia que se assim procedesse, perderia para sempre a inimizade da Dor e o do Azar; um terrível casal de amigos.

Mas, toda aquela desventura ou doença, como alguns preferiam dizer, provocou apenas uma pequena neurose no Orgulho e assim, apesar de toda prepotência e da enorme arrogância de ambos, numa noite fria de agosto os dois decidiram juntarem suas inconsequências, uniram-se despropositadamente e foram infelizes para sempre.



Um comentário:

  1. Padrinho, o texto é fantastico!!usa da ironia para refletir a realidade!!
    Parabéns pela escolha!

    Abraços

    Deborah Rodarte

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