A princípio, pensei em dar título a este escrito de “falta do que fazer”. Mas ele já existe. Pensei, então, em “falta de assunto”. Mas como se a falta é o
próprio assunto? Título para o que se vai escrever não falta. Principalmente se
o assunto é justamente “a falta”. Podem faltar argumentos, faltar inspiração e faltar até competência, mas nunca título para “faltas”.
As
faltas podem ser pessoais (individuais) ou sociais (coletivas), simples, graves,
insignificantes ou gravíssimas. Abaixo alguns exemplos:
- Faltas pessoais insignificantes são faltas como a falta de sorte no jogo, a falta de
cabelo na cabeça, a falta de estilo, a falta de ritmo, etc.
- Faltas pessoais simples são faltas como a falta de atenção, a falta de alegria,
a falta de um bem material (um carro, por exemplo), uma falta de concentração, uma falta de consideração, etc.
- Faltas pessoais graves são faltas como a falta de esperança, a falta de
respeito, a falta de caráter, a falta de escrúpulos, a falta de vergonha, a
falta de higiene, a falta de saúde, a falta de um membro do corpo, etc.
- Faltas pessoais gravíssimas são faltas como a falta de um dos sentidos - da visão,
da audição, do olfato, do tato, da fala e, principalmente, a falta de amor.
- Faltas coletivas e ou sociais são faltas como as falta de hospitais, de água,
segurança, de habitação, de transporte, de responsabilidade, de energia
elétrica, etc.
Algumas
faltas são causas ou consequência de outras faltas. A falta de dinheiro pode
ser causada pela falta de emprego, que pode ter sido causada pela a falta de
interesse em procurar um trabalho, que por sua vez, pode ser a falta de uma condução
ou de um pouco mais de esforço. A falta de vitaminas pode ser a causada pela
falta de alimentos, que pode ter sido causada pela falta de chuva e ou pela
falta de uma adubação correta da terra. A falta de sinalização e a falta de manutenção
de uma estrada podem ter como consequência um acidente, que pode levar a vítima
a óbito se a ela faltar o socorro médico, o pronto atendimento ou, simplesmente,
se lhe faltar um doador de sangue compatível com o seu.
Há
faltas que são contraditórias: a falta de um jogador de futebol convertida em
gol pode gerar a falta de alegria para uma torcida e a de tristeza para a
outra.
Muito
comum, hoje em dia, são as faltas política, como a falta de organização, a
falta de coordenação, a falta de controle, a falta de boa administração, a
falta de competência, a falta de capacitação, a falta de expediente e com mais
evidência ainda, a falta de compromisso com a população, etc.
Na
cultura e nas artes, são constantes as faltas de bom gosto: - a falta de bons artistas, de bons músicos, de bons compositores, de bons poetas, etc.
Aqui,
uma exceção: - com a devida permissão, veja a trova feita pelo meu amigo
Olympio Coutinho:
O passageiro ao voar
treme dentro do avião
- meu senhor, é falta de ar?
- não, moça, é falta de chão.
A “falta
de berço”, muitas vezes confundida com a falta de educação, não pode ser
associada à falta de escola e ou a falta de professores.
Algumas
faltas nos causam muita tristeza, como a falta de uma boa companhia, a falta de
carinho, a falta de cooperação, de colaboração, a falta de alguém por perto
(saudade), a falta de confiança e a falta de humildade que, resumindo, eu diria
serem essas “faltas de coração”.
De
modo geral, quase todas as faltas são desagradáveis, inclusive as mais simples
como a falta de espaço (muito utilizada pelos cronistas para limitarem suas
dissertações) ou a falta de tempo, que muitas vezes não passa de uma desculpa
esfarrapada. Quem sabe faz a hora...
Eu
sei que nesta minha relação, ficará faltando muitas faltas. E sei também que
elas são consequência da minha falta inspiração. Todavia, eu não poderia faltar
com a verdade, se não mencionasse aqui a falta de sono, a falta de vontade, a
falta de atitude, a falta de perdão, a falta de caridade, a falta de paz, a
falta de fé, a falta de uma prece e a mais significativa de todas: a falta de
Deus. Esta sim: - a mais perigosa, a mais lamentável e a mais comprometedora.
Que
ela nunca nos falte!
Aliás,
que não tenhamos falta de coisa alguma daquilo que precisamos nesta vida!