Tempos bicudos
O tempo não para. O tempo
voa. Parece que foi ontem. Depois de trabalhar por mais de 35 anos e de ter
contribuído todo esse tempo com a
previdência social, aposentei-me e agora para matar o tempo eu passo o tempo
fazendo passatempos, como palavras
cruzadas, sudoku e, às vezes, escrevendo. Só que há tempo que a inspiração não quer nada comigo e por este motivo, de
uns tempos pra cá, tenho escrito muito
pouco. Hoje, ouvi na previsão do tempo
que iria chover; que o tempo estava
fechando e que na parte da tarde iria descer ter um temporal. Resolvi, então, dar um tempo no sudoku e nas palavras cruzadas e, mesmo sem inspiração, tentar
escrever alguma coisa. Acho que em se tratando de inspiração estou vivendo tempos bicudos ou tempo das vacas magras. Mesmo assim, sentei-me na frente o
computador e comecei lembrar-me de algumas músicas que falam sobre o tempo. São muitas. Cito apenas algumas:
Meus tempos de menino de Ataúlfo
Alves que muita gente conhece como “professorinha” (eu daria tudo que tivesse, pra
voltar aos tempos de criança...); Dá
tempo ao tempo, fado cantado por Carlos do Carmo (dá tempo ao tempo, que o tempo corre e não cansa...); O tempo, de Reginaldo Bessa; segunda
colocada num festival de música da Rede Globo (o tempo não para no porto, não apita na curva, não espera ninguém...);
Carolina, de Chico Buarque (o tempo
passou na janela e só Carolina não viu...); Em tempo de avanço, de Tião Carreiro e Pardinho e Baía com H, cantada
por Francisco Alves. Essa é do tempo da vovó ou do tempo do onça. Algumas pessoas preferem dizer do tempo em que os
animais falavam. Lembrei-me, também, de um conjunto de chorinhos chamado
“Naquele tempo” e do filme “Tempos modernos” do Charles Chaplin. E
por falar em naquele tempo, é
assim que iniciam muitos evangelhos. Foi-se o tempo em a gente podia ouvir boas músicas, assistir a bons filmes e
outras tantas coisas boas que hoje não temos mais. Talvez, seja esse o motivo
pelo qual alguns anciões vivem exclamando: - “no meu tempo é que era bom; bons tempos
eram aqueles; tempo bom que não volta mais, áureos tempos, tempos imemoriais”,
etc. Outros ao ouvirem um rap, um rock ou coisa parecida costumam dizer: “é o
fim dos tempos”. Mas, cada coisa a
seu tempo. De tempo em tempo, as coisas
mudam mesmo. Muitas, às vezes para pior. Uma coisa é certa: o tempo é relativo. O tempo para quem está do lado de fora do
banheiro é diferente do tempo para
quem está do lado de dentro. O tempo
de quem espera numa fila para ser atendido num hospital é diferente do tempo de quem está numa fila para entrar
no teatro ou num show. O tempo para
quem vai receber uma dívida é diferente do tempo
para quem vai pagá-la. E por falar em dívida, quem nunca ouviu a expressão “tempo é dinheiro”? Na internet já li alguns
textos interessantes com o título “Com o tempo a gente aprende”. Nesses textos eu aprendi a não ficar
escravo do tempo. Aprendi, também,
que tudo tem seu tempo certo de
acontecer ou como diz Fernando Collor de Melo, “o tempo é o senhor da razão”. Assim, como tem um tempo para plantar e um tempo
para colher, na vida temos um tempo
para nascer, um tempo para viver e
um tempo para morrer. Portanto, o
importante é aproveitar o máximo do nosso tempo
disponível aqui na terra porque no jogo da vida não tem segundo tempo. Precisamos aproveitar, também, parte
deste nosso tempo para praticar boas
ações porque o tempo do verbo amar é
indeterminado, ou seja: infinito. Longe de mim o ditado que diz: - “é tempo de murici, cada um cuida de si e
os outros é que se danem”. Longe de mim, também, quem diz não ter tempo pra nada ou que precisa ganhar tempo. Tempo não se ganha e nem se perde. Tempo a gente faz como na música de Geraldo Vandré: -“Quem sabe faz
a hora, não espera acontecer”. Por algum tempo
podemos até pensar que as coisas estão acontecendo muito de pressa ou muito
devagar. Reclamamos a voragem do tempo,
como alguns costumam dizer. Mas o tempo
de Deus é diferente do nosso tempo. Sem
esquecer que na física, distância é velocidade vezes tempo e que por isso quem quiser ir mais longe deve caminhar mais devagar.
Diminuir a velocidade de suas ações porque o tempo é inclemente. Eu, por exemplo, quero ir para o céu, mas não
estou com pressa alguma de chegar lá. Quero ficar por aqui o tempo necessário que for para ser feliz,
como sou hoje, aqui e agora. Também desejo isto para todos os meus amigos e
amigas. Embora para muitos o tempo seja
cruel e inexorável, ninguém sabe o dia de amanhã.
Em tempo: quero pedir desculpas às pessoas que perderam e ou que perdem
o seu tempo lendo as coisas que
escrevo. Aliás, já era sem tempo
para elas saberem que há coisas mais interessantes para lerem. Um dia elas irão
saber. Mas isto só o tempo é que
dirá.
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