sábado, 4 de março de 2023

Um dedo de prosa


 Ontem eu estava pensando em abrir mão de um certo compromisso para escrever mais uma brincadeira. Dessa vez com a palavra “dedo”. Mas logo vi que isso seria impossível, posto que ninguém consegue escrever qualquer coisa com a mão aberta. Pensei, então, mais um pouco, e conclui que poderia abrir apenas a mão esquerda e deixar a direita livre para a escrita.

Todos nós, com raríssimas exceções, temos vinte dedos – dez nas mãos e dez nos pés. Tem pessoas que nascem com mais de cinco dedos numa mão ou num pé e tem pessoas que perdem um ou mais de um em acidente. Deixemos os dedos dos pés por enquanto. Nas mãos nós temos os dedos: polegar ou dedão, indicador ou apontador, dedo médio ou dedo do meio, anelar ou anular e dedo mínimo ou dedinho.

Na infância identificamos os mesmos como mindinho, seu vizinho, pai de todos, fura bolo e o mata piolho. Muita criança aprendeu as operações matemáticas fazendo contas com os dedos.

Separados ou combinados, nossos dedos podem expressar muita coisa.

A junção dos dedos polegar ou dedão com o indicador pode significar OK para algumas pessoas e uma ofensa para outras.

O dedo médio com o indicador abertos em V significa vitória.

O dedo polegar na vertical e o indicador na horizontal pode representar uma arma de fogo (um revólver).

Apenas o indicador em riste pode apontar uma direção ou reforçar uma ordem. Neste caso é sempre bom lembrar que quando você aponta este dedo para uma pessoa outros três ficam apontados para você.

Mas, onde os dedos têm maior utilidade é na língua libra para os surdos-mudos, pois são muitas as combinações, cada uma definindo um número, uma letra, uma expressão ou uma ação e a língua Braile para os cegos, quando os dedos exploram, por meio da sensibilidade – do tato, o universo da leitura.  

E por falar na “utilidade do dedo”, o cantor Gaúcho da Fronteira gravou uma música com esse título.

A importância dos dedos em nossa anatomia é muito grande. Eis alguns exemplos: para segurar uma ferramenta, um talher ou uma peça qualquer; apertar uma tecla ou uma corda de um instrumento musical; puxar o gatilho de uma arma de fogo; segurar um lápis, uma caneta ou um pincel etc. Os dedos servem para escrever ou digitar um texto, como estou fazendo agora e fazer ou receber carinhos. Os dedos servem para virar a página de um livro, para rasgar um papel e para mover uma peça num tabuleiro de xadrez. Servem também para coçar, para limpar os olhos, para molhar num líquido a fim de saber se o mesmo está quente ou frio e para tampar, provisoriamente, um pequeno furo. Ainda sobre o uso do dedo num instrumento musical, vale lembrar o verbo dedilhar. Os dedos são tão importantes que para protegê-los, certos profissionais precisam usarem um dedal pois, pior que uma agulhada no dedo é só uma martelada.

Alguns ditos populares utilizaram a palavra “dedos” para expressar ideias como: deixar escapar ou escorrer entre os dedos; escolher a dedo; ver o dedo de alguém em alguma coisa; num estalar de dedos; cruzar os dedos; vão-se os anéis, ficam os dedos, pôr o dedo na ferida etc.

E por falar em anéis, muita gente usa nos dedos anéis ou alianças para demonstrar compromisso num relacionamento ou, simplesmente como enfeite; sendo o preferido, mas não o único, o anelar, que até recebeu nome derivado deles.

Registro aqui, também, um livro que fez muito sucesso recentemente: O menino do dedo verde.

Uma curiosidade: dizem que quando se aponta o dedo para uma estrela cadente nasce uma verruga neste dedo.

Alguns jogadores de futebol, ao marcarem um gol apontam os dois dedos indicadores para o alto, talvez agradecendo a uma força superior que o tenha ajudado.

Estava me esquecendo da pimenta dedo de moça, que arde pouco e é muito saborosa.

Os dedos da mão humana, chamados de quirodáctilos, principalmente o dedo oposto aos restantes — o polegar, foram um salto evolutivo, pois permitiu aos animais a utilização de instrumentos, com os quais podem mais facilmente defender-se e modificar o meio ambiente (Edgar Morin, no seu O Paradigma Perdido – a natureza humana)

Finalmente, para concluir, permita-me ser agora um dedo-duro (gíria) - aquele (a) que delata, que faz alguma denúncia para dizer que eu gosto muito de você. Acredito, inclusive, que aí tem  o dedo de Deus.

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