quarta-feira, 20 de abril de 2016

Bicho carpinteiro




Se tem uma profissão ou hobby que eu sempre quis praticar foi a de marceneiro. Trabalhar com ou na madeira é coisa que me faz bem.
Na semana passada, a caminho da roça, vi uma árvore tombada às margens da estrada. Lembrei-me então do meu amigo de infância Paulo Pereira, irmão de Penélope (Pepê). A última vez que eu encontrei com ele foi em dezembro do ano passado, visitando o presépio do pipiripau.
Paulo Pereira é conhecido na roda de amigos pelo apelido carinhoso de “Pape”.
Ele é um grande carpinteiro (um varapau) e seus trabalhos são reconhecidos por muita gente mundo afora, pela qualidade e pela beleza, inclusive, por este que vos fala. O homem é bom pra dar com pau.
Já tive a oportunidade de ver os trabalhos de Pape numa exposição. Uma mesa e dois bancos que ele fez de ipê, um baú de angico, uma cama de mogno e um oratório feito de jatobá.
Atualmente, Pape está fazendo uma cômoda e uma penteadeira de jacarandá, com uma moldura toda torneada para presentear sua futura esposa, dona Janaína, que eu ainda não conheço.
Pape, como dizem seus amigos, “é pau pra toda obra”. Só não gosta é de ser incomodado enquanto está trabalhando. Certa feita, sua irmã, Pepê, quis meter a colher de pau no seu trabalho (dar palpite) e aí, como costumam dizer lá no Paraná: - O pau caiu a folha, ou seja: o pau comeu pra valer.
Mas você sabe que em briga de família ninguém ganha. Fica pau-a-pau. Aliás, briga é ruim de qualquer jeito.
Numa outra vez, foi um desconhecido que quis meter o pau (falar mal) de um trabalho que ele estava fazendo. Se não me falha a memória, era uma gamela para fazer média com a sogra. O pau comeu solto. O, então, desconhecido levou um pau que não irá esquecer nunca mais.
Outro que quase apanhou de pau foi o Marcondes. Este eu não lembro o motivo.
Sorte de muita gente é que Pape ainda não comprou um pau-de-fogo – um revolver.
Pape é uma pessoa muito boa. O que não se pode fazer é desqualificar o seu trabalho, porque aí ele fica nervoso e chuta o pau da barraca.
Apesar de nervosismo e de trabalhar muito, Pape gosta de jogar truco com os amigos e de lembrar a vez que ganhou uma queda, quando na última rodada, saiu só com um Ás, um Dois e um Três de paus.
Eu sempre falo com ele para não ficar esquentando muito a cabeça, porque cabeça quente para pau-de-fósforo que, além de esquentar a cabeça ainda queima no golpe.
Na minha casa eu tenho um guarda-roupas que ele fez para mim de jacarandá. Como, agora estou precisando de uma escada e vou procurá-lo neste final de semana.
Um fato interessante que Pape conta como grande vantagem foi quando ele tinha 12 anos e conseguiu ganhar um bom prêmio em dinheiro, subindo num pau-de-sebo.
Outro fato interessante, ou melhor: dantesco, é o fato dele já ter feito um caixão para si mesmo e uma cruz com madeira de lei para ser afixada na cabeceira de sua sepultura, quando ele morrer.
E por falar em morrer, Pape, tem paúra (medo em italiano) da morte, motivo pelo qual ele tem rezado, diariamente, para uma tal santinha do pau-oco.
E por estar se tornando uma pessoa famosa – um grande artista, já tem gente aproximando-se dele com um pau de selfie para tirar uma foto com ele. Pape não entende nada. Fazer o quê?
Pape era muito pobre. Pobre não, paupérrimo. Morou numa casa de pau-a-pique quando criança, lá no nordeste. Depois que veio para Minas Gerais num pau-de-arara, onde construiu uma casa com o madeiramento todo de peroba rosa, apesar dele gostar mais de trabalhar com pau d’alho. Ele diz que é mais resistente. Disso eu não entendo, nada.
Fato curioso é que Pape nunca aprendeu dançar mas gosta de ver a gauchada dançando a chula. Aquela dança que eles ficam pulando sobre um pau, no chão do galpão.
Mas, nem tudo tem dado certo para meu amigo carpinteiro. Noutro dia ele, na maior cara de pau, ele cantou a noiva do vizinho. Quando ouviu do mesmo: - vou lhe mostrar com quantos paus se faz uma canoa, Pape caiu no mato. Essa bateu no pau, desculpa-me, no travessão. Meu amigo se viu no pau-da-goiaba.
Tem uma coisa que eu e Pape não combinamos. Pape gosta de rock pauleira. Eu não.
O sonho de Pape, agora, é conseguir um pau-brasil, torneá-lo e doá-lo à escola para servir como pau-da-bandeira.
Pape não é e nunca foi um pau d’água mas, às vezes que bebe e tenta fazer um trocadilho, que não é a sua a praia. Numa assembleia, lá no sindicato dos madeireiros, quando o presidente disse que iria ler a pauta da reunião, ele fez um trocadilho que não posso repetir aqui, agora. Quando um membro pediu ao presidente para falar mais devagar, paulatinamente, ele fez outro. Sem comentários. Detestável é o nome que o proprietário de uma madeireira deu para a sua empresa, ali no Barreiro: Principau 
Agora vou ter que parar. Estou pensando em ajeitar meus pauzinhos para arrumar um emprego lá perto de casa.
P.S.: Não sei quem pediu para escrever isto. Como eu sou pau-mandado...

Matei a pau...

Um comentário:

  1. Passando pra te desejar um bom dia. É te dizer
    Que achei muito o bicho carpinteiro.

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