domingo, 9 de março de 2025

Agildo

 


Agildo

 

Agildo devia ter, aproximadamente, vinte anos de idade, quando se mudou de sua cidade natal - Serra do Salitre – MG, para Belo Horizonte - MG. Aqui ele estudou e formou-se em biblioteconomia numa faculdade pouco conhecida e começou a trabalhar numa empresa de arquivos digitais. Por gostar de rock, com os primeiros salários comprou uma guitarra e aprendeu a tocar algumas músicas dos Beatles. Conheci Agildo num bar onde, vez por outra, tomávamos uma cerveja.

Coincidência, ou não, os pais de Agildo se chamavam Gildo e Gilda. Sei que ele tinha dois irmãos: Atanagildo e Astrogildo e uma irmã Hermenegilda.

Agildo não era escritor ou poeta, mas gostava de dar palpites no que outras pessoas escreviam. Depois de eu mostrar a ele algumas alegorias que eu escrevi, Agildo quis fazer o mesmo. Revendo os meus alfarrábios, encontrei algumas delas que seguem abaixo, como “Sobre amar”.

Segundo Agildo, amar era para um:

Advogado – ter o direito de ser feliz,

Agricultor – semear bondades e colher carinhos,

Contador – debitar felicidades na vida de outrem,

Gramático – conjugar os verbos compreender e perdoar diariamente,

Jogador – o fair play da vida,

Louco – fugir de um hospício chamado solidão,

Matemático – extrair as raízes do orgulho,

Médico – curar o espírito,

Motorista – dirigir-se à Deus,

Religioso – desejar o bem ao próximo,

Vereador – legislar só alegrias,

Lutador - encorajar a alma a servir,

Filósofo - dar azo à inocência do coração,

Poeta - desconfiar de leitores bem-intencionados,

Eletricista – um choque de boas emoções,

Músico – uma melodia tocada no ritmo do coração.

Trovas, nunca foi o forte de Agildo. Guardei apena uma.

Foi olhando o seu perfil

no “face” que eu concluí:

com amigos - mais de mil,

como você é feliz, Ary!

Das frases de efeito que ele me enviou, só resgatei esta:

Será que andando sozinho é mais fácil da gente se encontrar?

Quanto aos textos, crônicas etc. Agildo não gostava de mostrar o que escrevia, apenas os títulos. Não sei porquê, guardei apenas estes cinco títulos. Ideologia de gênio, Viola inviolável, O paradoxo dos poetas, Hipocrisia censurada e Razoavelmente profundo.

Finalmente, algumas perguntas que ele gostava de fazer:

Quem inventou a palavra invenção?

Quem inventou a escola foi aluno ou professor na mesma?

Quem inventou a vacina, se vacinou?

Quem inventou a propaganda, fez propaganda do seu invento?

Quem inventou o atletismo, correu para comemorar?

Quem inventou o lápis, qual foi a primeira palavra que escreveu?

Quem inventou a palavra utilidade, achou que ela seria útil?

Quem inventou o trabalho estava desempregado?

Quem inventou a televisão assistiria, hoje, o BBB?

Quem inventou o futebol era bom de bola?

Não sei por onde anda Agildo, pois o bar que frequentávamos fechou as portas na época da pandemia e eu não tenho o seu endereço. Espero e desejo que esteja tudo bem com ele e que possamos nos reencontrar qualquer dia em qualquer lugar para trocarmos as nossas brincadeiras literárias.

 

 P.S.: Não conheci e não conheço nenhum Agildo. Não sei se vale a brincadeira.

 


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