Agildo
Agildo devia ter, aproximadamente,
vinte anos de idade, quando se mudou de sua cidade natal - Serra do Salitre –
MG, para Belo Horizonte - MG. Aqui ele estudou e formou-se em biblioteconomia numa
faculdade pouco conhecida e começou a trabalhar numa empresa de arquivos
digitais. Por gostar de rock, com os primeiros salários comprou uma guitarra e aprendeu
a tocar algumas músicas dos Beatles. Conheci Agildo num bar onde, vez por
outra, tomávamos uma cerveja.
Coincidência, ou não, os pais
de Agildo se chamavam Gildo e Gilda. Sei que ele tinha dois irmãos: Atanagildo
e Astrogildo e uma irmã Hermenegilda.
Agildo não era escritor ou
poeta, mas gostava de dar palpites no que outras pessoas escreviam. Depois de
eu mostrar a ele algumas alegorias que eu escrevi, Agildo quis fazer o mesmo.
Revendo os meus alfarrábios, encontrei algumas delas que seguem abaixo, como
“Sobre amar”.
Segundo Agildo, amar era para
um:
Advogado – ter o direito de
ser feliz,
Agricultor – semear bondades e
colher carinhos,
Contador – debitar felicidades
na vida de outrem,
Gramático – conjugar os verbos
compreender e perdoar diariamente,
Jogador – o fair play da vida,
Louco – fugir de um hospício
chamado solidão,
Matemático – extrair as raízes
do orgulho,
Médico – curar o espírito,
Motorista – dirigir-se à Deus,
Religioso – desejar o bem ao
próximo,
Vereador – legislar só alegrias,
Lutador - encorajar a alma a
servir,
Filósofo - dar azo à inocência
do coração,
Poeta - desconfiar de leitores
bem-intencionados,
Eletricista – um choque de
boas emoções,
Músico – uma melodia tocada no
ritmo do coração.
Trovas, nunca foi o forte de Agildo.
Guardei apena uma.
Foi olhando o seu perfil
no “face” que eu concluí:
com amigos - mais de mil,
como você é feliz, Ary!
Das frases de efeito que ele me enviou, só resgatei esta:
Será que andando sozinho é mais fácil da gente se
encontrar?
Quanto aos textos, crônicas etc. Agildo não gostava de
mostrar o que escrevia, apenas os títulos. Não sei porquê, guardei apenas estes
cinco títulos. Ideologia de gênio, Viola inviolável, O paradoxo dos poetas,
Hipocrisia censurada e Razoavelmente profundo.
Finalmente, algumas perguntas que ele gostava de fazer:
Quem inventou a palavra invenção?
Quem inventou a escola foi aluno ou professor na mesma?
Quem inventou a vacina, se vacinou?
Quem inventou a propaganda, fez propaganda do seu invento?
Quem inventou o atletismo, correu para comemorar?
Quem inventou o lápis, qual foi a primeira palavra que
escreveu?
Quem inventou a palavra utilidade, achou que ela seria
útil?
Quem inventou o trabalho estava desempregado?
Quem inventou a televisão assistiria, hoje, o BBB?
Quem inventou o futebol era bom de bola?
Não sei por onde anda Agildo, pois o bar que frequentávamos
fechou as portas na época da pandemia e eu não tenho o seu endereço. Espero e
desejo que esteja tudo bem com ele e que possamos nos reencontrar qualquer dia
em qualquer lugar para trocarmos as nossas brincadeiras literárias.
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