terça-feira, 11 de março de 2025

Jogando conversa fora


 


Fora FHC; fora Lula; fora Dilma; fora Temer; fora Bolsonaro e fora Lula outra vez. O brasileiro é mesmo fora de série e, por vezes, até mesmo fora de propósito. Alguns fora de si agem fora da razão, fora dos limites pré-estabelecidos, ou seja: fora da lei ou fora dos padrões éticos e morais. Fora de dúvida que, fora daqui, ou seja, fora do Brasil existe também muita gente agindo da mesma maneira.  Fora de mim julgar quem quer que seja. Fora de mim também analisar quem de maneira esdrúxula faz coisas fora do comum com intenções fora sei lá o quê. Este mundo de hoje está cheio de gente doida. Como dizia o saudoso cantor de samba de breque, Moreira da Silva, “pintei um quadro só por fora da moldura”. Ou como dizia um conhecido meu de nome Forácio, natural da cidade de Juiz de Fora – MG que veio morar aqui na minha região – “mais por fora que umbigo de vedete”. Forácio nunca se preocupou com o erro do escrivão que deveria ter registrado seu nome como Horácio na certidão de nascimento. Ele veio morar aqui para trabalhar na mineradora ForAço. No começo, muita gente pensou que ele fosse um foragido da polícia, mas era apenas um simples motorista de um caminhão fora-de-estrada que transportava rejeitos de minério de uma mina para serem jogados num bota-fora. Aqui, também, ele ficou conhecido por alguns pela alcunha de forasteiro. Gostava, de todo sábado, tomar uma cervejinha no Bar Forania, próximo de sua casa, para cantar alguns sambas-canção. Sua música preferida era “Chove lá fora”, que fez muito sucesso na voz de Tito Madi. Cantava também uma música da dupla Tião Carreiro e Pardinho chamada A casa, onde a pessoa construía uma casa só com produtos alimentícios e no final, com a crise financeira batendo à porta, o construtor convida a mulher e os filhos para comerem a casa e termina dizendo: “a casa vai ficar por dentro e nós vamos ficar por fora”. Quando chegava a turma do pagode com aqueles instrumentos de percussão, Forácio dizia se sentir muito desconfortável, ou seja: como um peixe fora d’água. Já no domingo pela manhã ele voltava ao bar, mas para jogar conversa fora com os amigos. Lá falavam de tudo: religião, política, futebol, ciências etc. De religião, Forácio dizia ser espírita e repetia sempre uma frase atribuída a Allan Kardec: “fora da caridade não há salvação”. Na política era bolsonarista pois, segundo ele, foi o único presidente que não jogou fora das quatro linhas. Na ciência dizia acreditar em vida fora do planeta terra. Forácio gabava de ter aprendido as quatro operações da matemática com cinco anos de idade e dava risada quando, tirando a prova dos nove numa soma dava noves fora zero. Gabava-se também de ter marcado um gol de fora da área num jogo decisivo no colégio onde estudara. Aliás, ele nunca ficou fora do time pois era um craque da bola, bastante admirado pelos amigos e torcedores. Antes que eu me esqueça, Forácio teve muitas namoradas mas levou o fora de todas elas. Sabe se lá por quê. Ele também deu o fora em muitas delas. Uma das brincadeiras que Forácio gostava de fazer no Bar Forania era quando seu amigo Celso chegava e ele fazia sempre a mesma pergunta: “quantos graus Celso (Celsius) fora a nigth?” (Fahrenheit). E a resposta era sempre a mesma: be fora (before) tudo; bom dia, 33 graus. Outra brincadeira entre eles era quando Forácio perguntava se ele era gaúcho e a resposta também era sempre a mesma – “pulei fora”. Falando um pouco de Celso, ele também nunca ficou fora da turma e nem de campo porque era também um craque. Ficou fora sim, foi da sala de aula quando deu uma declaração “fora do script” para a professora ao chegar fora de hora. Celso andava com roupas fora de moda (fora do usual do dia a dia) e falava muita coisa fora do habitual ou seja: fora do alcance de pessoas menos esclarecidas. Isso ele aprendeu com um amigo que também falava muita coisa fora do contexto; fora das especificações. Falava muito, mas só da boca pra fora. Um outro detalhe, não menos importante, é que durante a pandemia, que quase ficou fora de controle, Celso quase não pôs o nariz para fora de casa. Fora isso, era uma pessoa bacana demais. Fora do normal. Além desses dois, o certo é que tem muita gente dando bola fora; falando e escrevendo coisas fora de hora. Gente como você que está por fora, ou seja: que vive caindo fora quando eu digo que gosto muito de você. Alguma coisa ficou de fora desta minha brincadeira. Agora, olhando de fora e de fora a fora, dá para se notar que muita coisa ficou fora de lugar, fora de foco. Portanto, uma dica: não saia fora da sua zona de conforto para ler as coisas que escrevo. Ao ver que fui eu quem escreveu, saia fora.

 


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