segunda-feira, 10 de março de 2025

Rodolândia

 


Rodolândia

 

Veja o que rolou por aqui nesta sexta-feira

Era uma vez uma pequena cidade chamada Rodolândia, situada próxima de Volta Redonda, pela rodovia 080.

Suas ruas não eram paralelas. Eram círculos concêntricos. Tanto que para entrar nesta cidade ou sair da mesma era preciso seguir o caminho da tangente.

Havia em Rodolândia uma linda praça redonda, com arbustos podados na forma arredondada em canteiros redondos também.

No centro dessa praça um pirulito na forma de um cone com uma bola na base representando a grande instabilidade social e financeira daquela comunidade.

Todas as casas ali eram redondas e tudo nelas também - as portas, as janelas, os móveis, os quadros, os eletrodomésticos etc.

A energia da cidade era gerada por uma roda d’água.

O prefeito, Sr. Girônimo, casado com dona Adalgira, era um homem centralizador. Na esfera administrativa, era dele que partiam todas as circulares para as secretarias e departamentos da prefeitura. Circunspecto e sistemático, Sr. Girônimo não gostava de usar acento circunflexo nem no nome da cidade.

Porém, atento ao mercado de capitais e à “ciranda financeira”, sempre que o Ativo Circulante da prefeitura permitia, aplicava o excedente no GiroCaixa.

A bandeira da cidade era um círculo com um girassol no centro e a mascote do time; Rolético Futebol Clube era uma girafa. Ninguém sabia explicar o porquê.

No estádio local, mais conhecido como “Rendondão”, o time dava a volta olímpica no início e no final dos jogos.

A mania de arredondar tudo começava na infância.

No Natal as meninas ganhavam bambolês e os meninos piorras, piões, patinetes, velocípedes, bicicletas e outros brinquedos que usavam rodas.

Nos parques de diversões, enquanto os meninos brincavam na roda gigante ou na sombrinha mexicana, as meninas subiam num carrossel e cantavam cantigas de roda, fazendo belos e interessantes “de-vorteios”.

Já nas escolas, todos os alunos aprendiam nas primeiras aulas a calcularem o perímetro de uma circunferência e arredondamentos nas operações aritméticas.

Quando jovens, gostavam de sair à tardinha para tomar sorvete de bola, quando diziam: ‘vamos dar um giro por aí ou vamos dar uns rolês”

Naquela época, a música de maior sucesso no rádio era Roda viva, do Chico Buarque de Holanda.

Joias, bijuterias e relógios eram todos, obrigatoriamente, redondos.

Cerveja só podia ser Skol; aquela que desce redondo.

No restaurante da Rodoviária, próximo do Rodoanel, todo domingo era servido um rodízio com carne de boi girolês, vinda da fazendo do Sr. Giraldo.

Rodolândia também sempre foi o melhor lugar da região para quem quisesse lançar um disco e obter sucesso.

Não se sabe quando e nem como surgiram por lá os primeiros aparelhos de TV com tela plana e redonda, mas sabe-se, com toda certeza, que os programas preferidos da população de Rodolândia eram o “Roda Viva”, onde o entrevistado ficava sentando numa cadeira giratória, respondendo perguntas formuladas por membros de uma

mesa redonda e o programa “Roletrando” do Silvio Santos.

Contam que certa vez, alguém por lá tentou criar uma nota redonda para substituir as moedas que circulavam na cidade, mas sua tentativa acabou sendo frustradas.

Verdade é que, saindo de um ponto qualquer daquela cidade, quase sempre se voltava ao mesmo.

E fazer uma caminhada era fazer um looping.

Dizem também que certo dia, em Rodolândia, um grupo de jovens foi até o prefeito pedir ao mesmo a construção de um circuito oval para corrida de carros, pois o que eles mais gostavam era ouvir o “giro dos motores” das máquinas, mas o prefeito ficou tão furioso com a ideia que rodou (ou rodopiou?) a baiana e acabou mesmo foi construindo no local uma área para rodeios de cavalos.

E por falar em rodar a baiana, era em Rodolândia que dona Voltalice costumava incorporar (receber) a Pomba-gira.

Ainda sobre incorporar, dizem que o fundador daquela cidade foi a reencarnação da reencarnação, da reencarnação (para fechar o círculo) do inventor da roda. Rodei a vista numa enciclopédia inteira para descobrir quem foi que inventou a roda, mas não encontrei nada.

Noutro dia, conversando num círculo de amigos Rodolenses, descobri que o remédio mais vendido naquela localidade era o Voltarém.

Volta-e-meia via-se alguém saindo da farmácia com um envelope redondo no bolso.

Aliás, até hoje não entendi porque todo bolso de camisa por lá era redondo.

Redondilha foi o nome que um pai deu à filha que nasceu no dia dois de abril. Uma menina gorduchinha e rechonchuda que adorava comer tomates em rodelas.

Na falta de um carro redondo, o fusca foi o carro que mais vendido naquela cidade.

Em Rodolândia, um grupo de idosos, achando que estava com a bola toda, resolveu dispensar o geriatra da cidade. Quase rolou pancadaria.

E quase rolou pancadaria também quando um empresário muito rico (só usava relógios da marca Rolex) chamado Rodolfo, fabricante de rodos e viciado em jogos de roleta, tentou arrolar uma dívida na prefeitura e, não conseguindo, tentou agredir o prefeito que andava só rodeado de marginais.

Apesar de tantos problemas sociais, Rodolândia era uma cidade tranquila, posto que nunca se viu nenhum agente de segurança fazendo ronda por lá, com carros equipados com sirenes e giroflex.

Posso até estar enganado, mas foi um violento redemoinho a causa do desaparecimento de Rodolândia.

Posso estar também, redondamente enganado, mas essa cidade nunca existiu e se existiu foi só na mente de quem não tem o que falar, ou melhor: de quem não tem o que escrever.





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