Não é soneto
Hoje vou contar-lhe a história
de Leonora da Rocha Bicalho,
moça legal e simples. Daquelas
que não se acham à venda.
Mas tinha um defeito: usava e
abusava de um penduricalho.
Tanto é verdade, que acabou
ganhando o apelido de Penda.
Sua mãe, dona Adalgisa,
advertia-a com seu cabelo grisalho:
“filha - nada contra este seu
gosto - espero que me entenda,
mas você está parecendo uma
extraterrestre, um espantalho;
assim, Deus que nos livre, mas
você irá ficar de encomenda”
E foi pensando em evitar
desgostos, dissabores e atrapalho,
que “Penda” decidiu mudar-se da
cidade para uma fazenda,
deixando para trás um amor, ou
melhor: o seu quebra-galho.
Zé Luiz, conhecido por muitos
como Senhor Luiz da Venda,
não gostava de pegar no batente
- não gostava do trabalho.
Queria ofendê-lo, era só dá-lo
uma simples chave de fenda.
Mas o Luiz gostava muito de
Penda. Gostava pra carvalho.
Tanto que a mudança dela
atrapalhou muito a sua azienda
e quase que o levou para os
vícios da bebida e do baralho.
Foi por pouco que ele não perdeu
sua única fonte de renda.
O tempo passou e Sr. Luiz
tornou-se um grande paspalho;
alimentava-se mal e poucas vezes
saía lá de sua vivenda.
Aquele homenzarrão cara de
menino, tresloucado pirralho,
agora parecia mais uma galinha
de macumba em oferenda.
Um dia, porém, Penda teve de
retornar pela mesma senda;
mas sua volta veio a
constituir-se num verdadeiro ato falho.
Pois todos sabiam que o soneto
ia ficar pior que a emenda
e no dia vinte e dois de
setembro, dia marcado na agenda,
ela reapareceu descabelada,
atrapalhada e em frangalho.
E Luiz vendo-a naquele estado só
exclamou: és tu Penda!
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