sábado, 29 de março de 2025

Não é soneto

 


Não é soneto

 

Hoje vou contar-lhe a história de Leonora da Rocha Bicalho,

moça legal e simples. Daquelas que não se acham à venda.

Mas tinha um defeito: usava e abusava de um penduricalho.

Tanto é verdade, que acabou ganhando o apelido de Penda.

 

Sua mãe, dona Adalgisa, advertia-a com seu cabelo grisalho:

“filha - nada contra este seu gosto - espero que me entenda,

mas você está parecendo uma extraterrestre, um espantalho;

assim, Deus que nos livre, mas você irá ficar de encomenda”

 

E foi pensando em evitar desgostos, dissabores e atrapalho,

que “Penda” decidiu mudar-se da cidade para uma fazenda,

deixando para trás um amor, ou melhor: o seu quebra-galho.

 

Zé Luiz, conhecido por muitos como Senhor Luiz da Venda,

não gostava de pegar no batente - não gostava do trabalho.

Queria ofendê-lo, era só dá-lo uma simples chave de fenda.

 

 

Mas o Luiz gostava muito de Penda. Gostava pra carvalho.

Tanto que a mudança dela atrapalhou muito a sua azienda

e quase que o levou para os vícios da bebida e do baralho.

Foi por pouco que ele não perdeu sua única fonte de renda.

 

O tempo passou e Sr. Luiz tornou-se um grande paspalho;

alimentava-se mal e poucas vezes saía lá de sua vivenda.

Aquele homenzarrão cara de menino, tresloucado pirralho,

agora parecia mais uma galinha de macumba em oferenda.

 

Um dia, porém, Penda teve de retornar pela mesma senda;

mas sua volta veio a constituir-se num verdadeiro ato falho.

Pois todos sabiam que o soneto ia ficar pior que a emenda

 

e no dia vinte e dois de setembro, dia marcado na agenda,

ela reapareceu descabelada, atrapalhada e em frangalho.

E Luiz vendo-a naquele estado só exclamou: és tu Penda!

 

 


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