Pepé
Semana passada, depois de um pé de vento que derrubou
um pé de cedro lá
no pé da serra, eu
resolvi sair para dar uma
volta a pé pela cidade.
Eu sempre gostei de pôr o pé na estrada, de andar a pé...
Ao sair de casa, eu ainda pude
ouvir alguém gritando lá de dentro para mim: - “não demore muito - é um pé lá e
outro cá; vá num pé
e volte no outro”.
Eu não quis nem saber; finquei o pé na estrada e
fui.
Alguns minutos depois de caminhar
sem rumo eu ouvi o som de uma sanfona e fui conferir de onde ele vinha. Era um
forró, ou melhor: - um arrasta-pé
e “dos bão”. Tocava aquela musiquinha do Chacrinha: Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno que vá
embora. Entrei e, veja só quem eu encontrei lá? A Pepé - Penélope Pereira. Linda,
dos pés à cabeça. Calça
santropé coladíssima
no corpo, um pé de moleque
na mão e um copo de cerveja na outra, lá estava ela, toda feliz. Aliás, quer ver
Pepé feliz é dar a ela uma dose de pinga e um canapé para tirar gosto. E quer vê-la irritada é
chamá-la de pé-de-cana.
Muita gente acha que o apelido
Pepé foi dado a Penépole por causa das iniciais do seu nome, mas não. Este
apelido ela ganhou, ainda jovem, porque enquanto seus amigos diziam “comigo não
tem pê-rê-pê-pê,
ela dizia “comigo não tem pé-ré-pé-pé”
Eu sempre gostei muito de Pepé,
apesar dela gostar de ficar
pegando no meu pé. Gosto dela desde quando ela ainda morava em Igarapé. Depois que ela
mudou-se com a família para Tatuapé,
em São Paulo, eu acabei esquecendo-a. Ainda assim, era ela a mulher que jurei
um dia aos pés da Santa
Cruz de levá-la ao
pé do altar.
Pepé sempre foi uma mulher muito
bonita mas, não chega nem
nos pés de Jacqueline. Para o meu irmão, Pepé é um bicho de matar com o pé. Talvez
por causa dos seus joanetes.
Aliás, Pepé gostava de brincar com as amigas dizendo que aqueles joanetes eram o
seu calcanhar de Aquiles.
Tomei pé da situação, aproveitei a oportunidade e cochichei
umas palavras de carinho no
pé do ouvido dela. Jurei
de pés juntos que iria dar a ela conforto e muito amor, mas notei, e sem
muita dificuldade que o que ela queria saber mesmo era se eu já tinha um pé de meia feito.
E foi naquele ambiente meio
escabroso que um desconhecido, um pé rapado, vendo que o meu bate papo com Pepé podia render um
passeio no sítio, num ataque de inveja, aproximou-se de nós disse-me para que
eu a deixasse em paz, pois eu já estava com o pé na cova e com passagem comprada para a cidade dos pés juntos.
Minha vontade naquela hora foi a de soltar um pontapé na bunda daquele desgraçado, encher o pé mesmo, com
vontade e jogá-lo a uns mil pés
de altura.
Se eu já tivesse tomado umas, não ia ter meu pé me dói.
Eu daria um sopapo no pé
da orelha daquele vagabundo que iria dar no pé, na hora. Mas fazer isto seria dar um tiro no pé. Pepé iria
desaparecer num instante. Mantive
os pés no chão e continuei a conversa com a minha amiga. Agora, que tem
horas que dá vontade da gente meter o pé na jaca, ah, isso tem!
Só que a gente não pode ir metendo os pés pelas mãos
e sair por aí fazendo besteiras. Eu sei que bastava bater o pé no chão que o “pé de anjo” criaria um pé de atleta na hora e daria no pé naquele
momento. Melhor mesmo foi deixar pra lá.
Mais tarde fiquei sabendo que
aquele intruso, aquele pé-de-chinelo
era amigo particular do governador do Rio de Janeiro – o Pezão
Enquanto isso, lá fora caía um
pé d’água que minha
vontade era ter um pé-de-pato
e ir embora para casa nadando.
Mas deixar minha amiga ali nas
garras daquele pé de boi
não ia ser legal. Não arredei
o pé.
Pepé nunca foi um pé de valsa, embora tenha
estudado dois anos de balé e, se não fosse aqueles joanetes talvez, naquela
noite ela poderia estar rodopiando na ponta dos pés naquele salão.
Com Pepé, eu tenho certeza que
ia tirar o pé do atoleiro.
Com ela eu ia ficar com os
pés no chão e a cabeça nas nuvens. Mas, em se tratando de mulher bonita,
devo confessar-lhe que sempre fui um tremendo pé frio. Vamos ver com a Jacqueline.
Agora, se você conseguiu ler
tudo isto até agora, você deve parar e analisar tudo ao pé da letra, parai concluir que está
passando da hora de eu encerrar este texto que só tem besteiras. Vai, inclusive,
dizer, com muita convicção que este texto é um verdadeiro pé no saco.
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