segunda-feira, 29 de junho de 2015

Pepé



Pepé



Semana passada, depois de um pé de vento que derrubou um pé de cedro lá no pé da serra, eu resolvi sair para dar uma volta a pé pela cidade.
Eu sempre gostei de pôr o pé na estrada, de andar a pé...
Ao sair de casa, eu ainda pude ouvir alguém gritando lá de dentro para mim:  - “não demore muito - é um pé lá e outro cá; vá num pé e volte no outro”.
Eu não quis nem saber; finquei o pé na estrada e fui.
Alguns minutos depois de caminhar sem rumo eu ouvi o som de uma sanfona e fui conferir de onde ele vinha. Era um forró, ou melhor: - um arrasta-pé e “dos bão”. Tocava aquela musiquinha do Chacrinha: Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno que vá embora. Entrei e, veja só quem eu encontrei lá? A Pepé - Penélope Pereira. Linda, dos pés à cabeça. Calça santropé coladíssima no corpo, um pé de moleque na mão e um copo de cerveja na outra, lá estava ela, toda feliz. Aliás, quer ver Pepé feliz é dar a ela uma dose de pinga e um canapé para tirar gosto. E quer vê-la irritada é chamá-la de pé-de-cana.
Muita gente acha que o apelido Pepé foi dado a Penépole por causa das iniciais do seu nome, mas não. Este apelido ela ganhou, ainda jovem, porque enquanto seus amigos diziam “comigo não tem pê-rê-pê-pê, ela dizia “comigo não tem pé-ré-pé-pé
Eu sempre gostei muito de Pepé, apesar dela gostar de ficar pegando no meu pé. Gosto dela desde quando ela ainda morava em Igarapé. Depois que ela mudou-se com a família para Tatuapé, em São Paulo, eu acabei esquecendo-a. Ainda assim, era ela a mulher que jurei um dia aos pés da Santa Cruz de levá-la ao pé do altar.
Pepé sempre foi uma mulher muito bonita mas, não chega nem nos pés de Jacqueline. Para o meu irmão, Pepé é um bicho de matar com o pé. Talvez por causa dos seus joanetes. Aliás, Pepé gostava de brincar com as amigas dizendo que aqueles joanetes eram o seu calcanhar de Aquiles.
Tomei pé da situação, aproveitei a oportunidade e cochichei umas palavras de carinho no pé do ouvido dela. Jurei de pés juntos que iria dar a ela conforto e muito amor, mas notei, e sem muita dificuldade que o que ela queria saber mesmo era se eu já tinha um pé de meia feito.
E foi naquele ambiente meio escabroso que um desconhecido, um pé rapado, vendo que o meu bate papo com Pepé podia render um passeio no sítio, num ataque de inveja, aproximou-se de nós disse-me para que eu a deixasse em paz, pois eu já estava com o pé na cova e com passagem comprada para a cidade dos pés juntos. Minha vontade naquela hora foi a de soltar um pontapé na bunda daquele desgraçado, encher o pé mesmo, com vontade e jogá-lo a uns mil pés de altura.
Se eu já tivesse tomado umas, não ia ter meu pé me dói. Eu daria um sopapo no pé da orelha daquele vagabundo que iria dar no pé, na hora. Mas fazer isto seria dar um tiro no pé. Pepé iria desaparecer num instante. Mantive os pés no chão e continuei a conversa com a minha amiga. Agora, que tem horas que dá vontade da gente meter o pé na jaca, ah, isso tem!
Só que a gente não pode ir metendo os pés pelas mãos e sair por aí fazendo besteiras. Eu sei que bastava bater o pé no chão que o “pé de anjo” criaria um pé de atleta na hora e daria no pé naquele momento. Melhor mesmo foi deixar pra lá.
Mais tarde fiquei sabendo que aquele intruso, aquele pé-de-chinelo era amigo particular do governador do Rio de Janeiro – o Pezão
Enquanto isso, lá fora caía um pé d’água que minha vontade era ter um pé-de-pato e ir embora para casa nadando.
Mas deixar minha amiga ali nas garras daquele pé de boi não ia ser legal. Não arredei o pé.
Pepé nunca foi um pé de valsa, embora tenha estudado dois anos de balé e, se não fosse aqueles joanetes talvez, naquela noite ela poderia estar rodopiando na ponta dos pés naquele salão.
Com Pepé, eu tenho certeza que ia tirar o pé do atoleiro. Com ela eu ia ficar com os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Mas, em se tratando de mulher bonita, devo confessar-lhe que sempre fui um tremendo pé frio. Vamos ver com a Jacqueline.

Agora, se você conseguiu ler tudo isto até agora, você deve parar e analisar tudo ao pé da letra, parai concluir que está passando da hora de eu encerrar este texto que só tem besteiras. Vai, inclusive, dizer, com muita convicção que este texto é um verdadeiro pé no saco

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